Ausência de mimodramas
O grande filme precisa ter pelo menos uma cena mimodramática. Precisa do recurso cênico chamado de mimodrama. O mimodrama é o ponto elevado de um acontecimento dramático que o cinema falado desconsiderou em grande durante a sua própria evolução. No início do cinema o homem havia recebido o impacto da esplêndida visão de seu mundo estético em termos de compreensão mimodramática. O narcisismo era outro, satisfeito.
A domesticação da imagem modificou a simples imagem de um pássaro canoro (quero-quero ou dom-fafe) ativando seu canto com o recurso avançado de áudio. Som e imagem formaram o novo requinte, porém a experiência sonora começa como resíduo dessa inteireza. Uma segunda instância simbólica. Já a imagem em si é sem embaçamento, pura em sua força de credibilidade. Nosso tempo possui carência da visão mimodramática.
Carentes de identidade visual aérea, fílmica, temos certa deficiência desse espelho exultante e ausente, fruto da percepção gestual. Da imagem pela imagem com o ser imerso em sua ação. O que produz "vida" rapidamente compartilhada sobre à falsa ideia de enclausuramento que as imagens podem oferecer. Tão discursivos somos.
Assim vivemos opressivamente dissuadidos pelas palavras e impulsionados pela ação de consumo prático.