ZOOLÓGICO

Nessa semana do carnaval que passei em São Paulo, aproveitei a oportunidade para fazer uma visita ao zoo, porque em janeiro foi humanamente impossível vez que tinha até fila do lado de fora, esperando para entrar. Dessa vez havia menos gente porque o paulista tem o saudável hábito de descer para as praias durante os feriados prolongados.

Para reduzir a uma só palavra, a experiência foi decepcionante.

Para as pessoas que têm o mínimo de consciência ecológica o que se vê por lá é incômodo, imagine-se para os que, como eu, têm formação em Biologia.

Os animais estão confinados em recintos pequenos e desprovidos de artefatos que simulem o ambiente natural de onde foram subtraídos.

Nos breves momentos em que me detive frente a cada um deles, deu perfeitamente para perceber o mal estar daqueles pobres animais, muitos deles apresentando movimento pendular que é indicativo de estresse e distúrbio neurológico.

Os animais humanos exigem, com gritos, pancadas e xingamentos, que os outros que estão confinados estejam em permanente vigilância, se movimentando e famintos para satisfazer a sua curiosidade e que comam toda sorte de porcarias atiradas nas jaulas.

Animais de hábito crepuscular como a anta (Tapirus terrestris) estava exposta ao sol forte do meio dia, porque não tem refúgio no recinto que ela ocupa e se tem, estava fechado. Os olhos dos animais crepusculares não estão adaptados para luminosidade intensa e breve eles estarão cegos pela catarata.

Nossos primos primatas (Orangotango – Pongo pygmaeus e Chimpanzé – Pan troglodythes) estão em recinto sem sombreamento e como artefato de cativeiro, foram colocadas tiras, semelhantes a mangueiras de combate a incêndio, que eles utilizam para exercício e descanso fora do solo.

Anos atrás, na parte do zoo conhecida como Simba Safári, o visitante entrava com o carro, com as janelas lacradas, para ver os animais soltos, como se de fato estivessem em seus habitats. Mas isso mudou. Agora se paga R$ 15,00 por pessoa para ver os animais em recintos tal como na área geral.

A justificativa apresentada foi de que houve ataque a visitantes (que devem ter saído do carro) e que por isso a administração (?) do parque resolveu que os animais seriam confinados.

Soltos, no meio dos carros, apenas um bando de veados e o casal de camelos (Camelus bactrianus) que atendem pelos nomes de Simba e Yasmim e que recebem, diariamente, doses cavalares de amendoins e pipocas salgadas.

O conceito biológico internacional para parques zoológicos é que se trata de local para estudo e preservação da vida selvagem, com o objetivo de educar a população e de tentar a reprodução em cativeiros para a reintrodução de espécies animais em áreas que foram degradadas pela ação humana, ou por fenômenos naturais, principalmente as espécies endêmicas.

No item educação está implícito que o animal cativo tem o direito a tranquilidade a fim de não alterar seu elenco comportamental e para que possa ensinar aos filhos os hábitos e vocalizações da espécie.

Mas o que se vê é exatamente o contrário. O zoo de São Paulo não tem instrutores, nem guias, para orientar a população humana que, totalmente despreparada e desprovida de respeito pelos outros animais, se comporta como uma horda de bárbaros. Também não há vigilância para coibir os abusos e os desrespeitos às instruções contidas nas pouquíssimas placas de advertência.

No serpentário tem o aviso na entrada “NÃO BATA NOS VIDROS” que é sistematicamente desrespeitado pela maioria dos incômodos visitantes.

Algum imbecil megalomaníaco escreveu na bíblia que o homem deve dominar tudo que se move (Gen. 1:28) e os ignorantes atuais levam ao pé da letra, como se não fôssemos parte integrante e inseparável da natureza.

Um desses néscios, seguidores das escrituras, respondendo à pergunta do filho pequeno, se aquele bicho era uma cobra, disse:

-“cobras foram todas amaldiçoadas no jardim do éden...”

Diante de tamanha estupidez achei por bem voltar para casa.

No caminho lembrei-me do poema Pasto de Urubus, do poeta pernambucano, Armando Maia.

“Amanheceu jogado na campina

Por onde, casualmente, os olhos deito

Cadáver de animal, já putrefeito

De ventre inchado em posição supina

Enquanto infecta a relva do seu leito

Urubus, negras aves de rapina

Vêm tornar de carne o papo satisfeito.

Pulam, grasnam, devoram e num instante

Esse bando, necrófago, volante

A simples ossos o animal reduz.

Depois de morto tal não te aconteça

Pois o que trazes dentro da cabeça

Certamente envenenava os urubus”