Susto de Carnaval
Dia 26 de fevereiro, o Monobloco fecha o Carnaval carioca 2012, desfilando da Candelária à Cinelândia, sob o sol escaldante de mais de trinta e cinco graus. A Rio Branco se transformou numa grande centopéia cujas pernas eram as ruas transversais, vazadouro da multidão comprimida em todo o percurso, onde se reuniram 500 mil foliões, segundo estimativa da Polícia Militar, número recorde do bloco, em relação aos outros anos.
Ao som de sambas tais como, “Fogo e Paixão” de Wando, “Samba, Suor e cerveja” de Caetano, Sambas- enredo, xotes, funk e tantas outras. Os foliões se esbaldaram, durante três horas e meia sob o calor de quase quarenta graus, suavizados com jatos d’água, água mineral, refrigerante e cerveja bebida e despejada na cabeça. Viam-se foliões pendurados em pontos de ônibus, postes e árvores, o que fez o cantor, Pedro Luís, pedir várias vezes que descessem dali. Indiferente a esses detalhes, ao som do tamborim, da cuíca e do agogô, a multidão serpenteia, numa mistura de som e movimento bem sincronizados na despedida do carnaval de rua.
Ao meio dia, decidida a almoçar no Amarelinho, uma comida bem leve, peguei o Christian pelo braço e seguimos em sua direção. Os blocos estavam se aproximando. Eu quis chegar mais perto e andamos ao encontro dos foliões. Num determinado ponto ele queria voltar, amedrontado com a possibilidade de ser engolido pela multidão. Paramos em um ambulante, compramos duas cervejas e voltávamos para almoçar. De repente, não o vi mais a meu lado. Pensei que poderia estar brincando, um costume seu para me assustar. Andei para um lado para o outro e nada. Fui até o Verdinho, a ver se estava por lá. Depois fui até o Amarelinho, será que entendera errado o nome do restaurante? Também não estava naquele restaurante. Dei mais uma volta no meio da multidão olhando detalhadamente para todos os lados, voltei pelo outro lado da praça e nada. Comecei a ficar meio apavorada. Será que fora sequestrado com aquela cara de gringo? A preocupação tomou vulto e cresceu feito um monstro. Eu não deveria tê-lo convidado para ver o bloco. O que fazer agora? Telefonar para minha filha e os netos para pedir ajuda na procura daquele homem que para mim, naquele momento, parecia tão desprotegido!
Fui mais uma vez aos dois restaurantes e nada. A multidão crescia à medida que os blocos iam chagando ao destino. Agora já era muito difícil a locomoção, tive certeza de que não o encontraria e resolvi ir até o apartamento para telefonar e pedir ajuda. Ao me livrar da multidão andei o mais rápido que pude. A distância me parecia maior que de costume; apressei o passo, virei a esquina, cheguei em frente ao prédio, a porta estava fechada. Toquei a campainha, pereceu-me um século até o porteiro abrir. O elevador estava no último andar e não chegava. Meu coração estava aflito, imaginando aquele homem em mil situações de perigo. Desci do elevador andei até o final do corredor e ia pensando se Jane estaria em casa naquele momento... Abri a bolsa e já ia com chave à mão. Abri a porta e quase tive um desmaio ao encontrar o Christian sentado à mesa, comendo um sanduíche de queijo com presunto e suco de uva, na maior tranquilidade.
Desmoronei no sofá e agradeci a Deus por acabar com aquela angustia. Passados alguns minutos saímos para almoçar no restaurante. Segurei firma sua mão e só soltei ao nos sentirmos seguros dentro da divisória de metal que nos separava do público.