"Um dia vou escrever bonito"

Um dia, um dia. De fato, há quem goste de uma boa impressão – daquela máscara que as pessoas insistem em ficar olhando. Não é por menos que tá tudo assim. Discorrem, muitos, aquelas lindas palavras que só vinte porcento sabem realmente o que significa. Não vou generalizar nada aqui, não acho justo.

Eu aprendi meio cedo que é importante saber falar direito, mas que não é necessário falar sempre direito. Não me venha com essa de "norma culta" (que, aliás, é uma senhora palavra feia – parece alguém com nariz empinado, circulando em torno de você, repetindo "norma culta, norma culta!"). Estou me formando em jornalismo e sei, sim, em que locais eu devo usar a norma... digo, o jeito direito de se falar. Sei também que é por isso que gosto de escrever textos assim, livremente. Eles são meus e eu escrevo do jeito que quiser – se eu vou gostar é outro papo.

A língua portuguesa tá cheia de expressões legais no cotidiano. Nem vou citar nada aqui porque, oras, vocês vivem por aí, vocês sabem do que eu falo. Se eu pudesse viajar para cada cidadezinha do Brasil pra achar todas essas expressões deliciosas, eu o faria – mais de uma vez.

O motivo desse texto, porém, é outro.

Li em qualquer lugar aí na tal da internet um comentário em algum lugar que me deixou intrigado. "Um dia vou escrever bonito". Sei lá o que a pessoa quis dizer, provavelmente não tem nada a ver com que eu estou falando. Sabe quando uma frase pula na sua cara? De um tiquinho pro outro você está tendo vários pensamentos aleatórios sobre a frase ou palavra. Pelo menos, eu sou assim. (Se alguém mais for, manifeste-se, porque eu não conheço ninguém assim).

Enfim, mas não chegando ao fim. Esse comentário me deixou intrigado pelo seguinte motivo: o que raios é escrever bonito? É escrever com belas palavras (mas beleza é relativo)? Ou combinar palavras? Ou uma síntese toda inspiradora? Como aspirante a jornalista e fingido de escritor, eu gostaria de ter opiniões. O que você acha bonito?

Eu não ligo muito pra palavras bonitas e eu quase dormi lendo Dostoievski, desculpe por isso, meu caro (nada contra, é sério, eu táva sem café, foi culpa minha). E, do outro lado, um dos meus escritores favoritos é Charles Bukowski, cheio de caixas altas e palavrões bem posicionados. Se me perguntarem o que acho mais bonito, respondo de prontidão Charles Bukowski. Acho que, desde que sinceros sejam, textos, poesias, livros, palavras são bonitas. Aquilo que traduz sinceridade. Não que Dostoievski não o seja, eu sei lá, eu quase dormi, lembra? Mas não me veio logo de prontidão. E não porque eu ache Dostoievski ruim, novamente, eu não posso dizer, eu mal li direito pra construir um julgamento final. Só estou dando um exemplo de um cara "conhecidamente" denso. Agora tá aí, eu prefiro Bukowski à muitas coisas simplesmente porque eu prefiro. É natural. Não tem como algo ser "bonito" pra todo mundo. E esse é meu ponto.

Outro exemplo, que inclusive eu vejo por aqui, é aquele pessoal que escreve tudo em caixa alta ou caixa-alta (não sei se tem hífen ou não). É feio visualmente? É. Mas eu vi lindos poemas escritos "tudo grande" e, então, no final, isso não fez diferença: o poema continuava lindo.

"E NA VISÃO DO NADA,

O SILÊNCIO ME PERGUNTAVA

O QUE HAVERIA DE SER

EU DISSE A ELE PARA NADA FAZER

MAS, NO IMPULSO HEI SEMPRE DE ME PERDER

OUVI DIZER

QUE O SILÊNCIO NÃO É MUDO

MAS É SURDO"

Ora essa.

"Um dia vou escrever bonito".

Melhor ter certeza de que você tem algo bonito pra dizer.

Ou ainda que você tenha algo a dizer.

Porque senão, vale pouco a pena,

não é?

Diga-me... ou melhor:

me diga se tô falando besteira ou não.