Engodo Contraproducente

- Confio muito em você.

- Eu também.

- Desde a primeira vez que chupei seus peitinhos.

- Lembro que eu estava meio bêbada.

- Eu não, eu estava são, e mesmo assim não teria a destreza que você teve ao volante quando baixei sua blusa e caí de boca.

- Foi aquele dia? Aquele dia que nos conhecemos?

- Sim, aquele dia.

- Isso tudo é uma loucura.

- E pior é que não tem amor.

- Não mesmo.

- É mais uma fuga, uma vontade desvairada que dá de bater o pinto na cara de uma qualquer, só pra variar um pouco.

- Eu sei... Isso de saber que se eu de repente sumir não te deixarei chateado me passa um conforto sem tamanho, sabia? Porque o que eu quero, agora, nessa época louca, e só ter minha bucetinha na sua língua e nada mais.

Ele arreganha a boca num bocejo e encerra a abertura num sorrisinho cansado.

A conversa estava deixando-o entediado.

Já tinha gozado, que mais importava?

Já tinham gozado, que mais importava?

A pretensa liberdade de ser amante tinha lá suas amarras: a constante auto-afirmação, por exemplo, era uma delas.

Ficar ponderando sobre o óbvio era um engodo a algo mais sério, restrito, e irrestritamente enfadonho. Contraproducente. Chato.

Já estava na hora de bater em retirada... Ele sabia que ela sabia que se o abandonasse, ela não ficaria cheia de remorsos, não ficaria magoada - era aquilo e pronto. Acabou.

E se fosse o caso inverso?

A decisão estava tomada: aquela seria a última noite clandestina dos dois.

Ele sorriu; o ricto, a marca de um pedaço de história que seria deixado para trás.

- Do que você está sorrindo, posso saber?

Ela pergunta, debruçada sobre ele. Corpos nus.

- De nós dois.

Ela alarga um sorriso e os olhos brilham.

Ele dirige o olhar ao abajur.

E fecha os olhos.

29/02/2012 - 18h20m

Rafael P Abreu
Enviado por Rafael P Abreu em 29/02/2012
Reeditado em 29/02/2012
Código do texto: T3527595
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