"LEMBRANÇAS"

Por várias vezes me pego a lembrar de momentos que marcaram a minha vida, como se fossem histórias escritas em páginas de um livro velho no qual o vento teima em revirar ao seu bel prazer; então me pego a lê-las compulsivamente, sentindo novamente as mesmas emoções vividas anteriormente.

Numa dessas páginas revivi o dia do meu aniversário de dois anos; incrível como me lembro dos detalhes, o meu tio me deu um jambeiro (a árvore que produz jambo), na hora estranhei um pouco mais depois eu e minha mãe fomos plantar aquele filhote de árvore no jardim, num local que já estava reservado pra ele e todos os dias minha mãe regava suas plantas e eu regava o meu jambeiro ao qual fui me apegando; tenho várias fotos ao lado dele e fomos crescendo juntos, se bem que ele muito mais que eu, é claro.

Quando ele já estava fortinho, comecei a me pendurar em seus galhos, depois já ficava sentada neles, lembro-me do seu primeiro fruto o qual fiz questão de comê-lo, e como era saboroso; depois foram tantos frutos, que eu já não dava conta sozinha e fazia questão de dividi-los com todo mundo, só pra escutar os elogios, poxa que jambo gostoso!

Lembro-me de quando meu pai fez um balanço de pneu, e eu adorava ficar me balançando pra lá e pra cá, ouvindo o canto dos passarinhos que (como eu) amavam estar ali naquele cantinho especial.

Tudo o que acontecia comigo ele sabia, se estava alegre, triste, aborrecida, se tirava notas baixas ou altas, se brigava com coleguinhas; enfim ele era meu amigo, irmão, filho, pai, confidente e até mesmo conselheiro; já que na sua sombra eu conseguia pensar melhor nas coisas que estavam acontecendo comigo.

Quando tinha dez anos, minha mãe disse que íamos nos mudar então eu perguntei se podíamos levá-lo conosco, ela até chegou a procurar essas empresas que transplantam árvores, porém era economicamente inviável e tive que me separar do meu melhor amigo. Nesse dia chorei muito abraçada ao seu tronco e prometi a ele que sempre iria visitá-lo. O que ocorreu só umas duas vezes, pois a casa foi ocupada por outras pessoas e a nossa nova casa era bem distante.

Às vezes perguntava a minha mãe se ele estava sentindo minha falta assim como eu sentia falta dele e ela me dizia que eu não me preocupasse, pois logo ele teria companhia de outras crianças, que ele não ia ficar sozinho.

Hoje sou adulta, porém não esqueci aquela amizade que me fez tão bem; qualquer dia desses, eu vou até lá visita-lo, nem que seja só pra olhá-lo por cima do muro.

VANUSA PAIXÃO
Enviado por VANUSA PAIXÃO em 29/02/2012
Reeditado em 22/11/2012
Código do texto: T3526986
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