FÉRIAS
Após trabalhar trezentos e sessenta e cinco dias em uma pequena empresa com o chefe mais chato do mundo, ter que bater o “bendito” ponto, cartão, crachá e ultimamente passarmos apenas o dedo e nossa impressão digital delatar toda a nossa assiduidade, os ônibus lotados, metrô sob um calor infernal, trens parando constantemente, finalmente estamos de férias!
Acordamos no primeiro dia de férias meio assustados sem saber o que fazer com os trinta dias conseguidos com muito mérito e ficamos vagando entre a sala e a cozinha. Abre a geladeira, assiste televisão, começa a ler um livro e não passamos da terceira página, a inquietação atormenta nosso espírito e então vamos ao quintal alimentar os pássaros e não sabemos onde está o alpiste e acordamos a “patroa” e então ela acorda meio brava dizendo que está na segunda gaveta do armário e volta a dormir, tentamos inutilmente regar aquela flor que tanto amamos e está tão linda, mas não sabemos onde está o regador e novamente a esposa é solicitada para dizer onde está o tal regador. Barulho de água na chaleira e inventamos depois de tanto tempo fazer um café e levar pra esposa na cama, mas não sabemos onde está o pó de café e novamente acordamos a linda dona do lar. Até que num determinado instante ela fica muito zangada, acorda dirige-se até a cozinha e mostra onde está tudo aquilo que queremos e então dizemos:
- Desculpe-me querida, estou de férias! E ela com a cara de leão de circo diz:
- Pois seria muito melhor se você estivesse trabalhando, pois só assim não seria acordada a esta hora!
- Mas querida já são nove horas!
- E aí, não sabe que meu horário de acordar é dez horas!
E então saia vagando pelo quintal tentando encontrar o verdadeiro significado de “Férias” e quando pensava que tudo estava perdido e eu estava predestinado a passar as minhas férias sendo humilhado, subitamente dizia:
- Arrume as malas, vamos viajar para o Litoral Norte e não se esqueça de levar aquele biquíni branco ao qual você fica muito gostosa!
A minha amada sorria e derretia-se toda e corria fazer as malas para partirmos para nossas merecidas férias. Nossa? Claro que não, apenas a minha, pois a patroa não fazia nada o ano inteiro e ainda usufruía daquele maravilhoso período.
Todas as nossas malas eram colocadas no carro e era então que eu observava que estava faltando o principal e logo gritava:
- Mas onde está a Barraca de Camping, querida! E ela falava nervosamente:
- Mas nós vamos acampar Luiz? E minha resposta era:
- Sim, vamos acampar, há alguma objeção?
Humildemente ela ia até o grande porão e retirava a enorme Barraca de Camping e colocava no carro com minha ajuda, é claro.
Entre eu arrumar todas as “tralhas” no carro, beber algumas poucas cervejas restantes na geladeira demorava poucos minutos e todos estávamos preparados para pegar a estrada.
Novamente nossos conflitos entravam em erupção, pois ela adorava ouvir pagode e eu admirava Música Popular Brasileira e depois de vários minutos entrávamos num consenso e saíamos ouvindo o maravilhoso Chico Buarque de Holanda que logo na descida da serra era substituído por grandes grupos de pagode. Aceitava humildemente e colocava meu protetor auricular e assim os pagodeiros desciam cantando e eu dormindo sob o efeito de algumas cervejas ingeridas antes da partida e pouco ouvia as vozes estridentes dos “maravilhosos” cantores da minha amada.
Quantas vezes fui acordado durante a viagem e algumas perguntas ecoavam sobre o tal grupo:
- São maravilhosos, não é Luiz? Referindo ao som que estava “rolando” no CD e eu dizia rapidamente entre uma babada e outra:
- Realmente são excelentes! Se você encontrar músicos melhores avise-me! E virava-me para outro lado e continuava a dormir.
E quando meus sonhos pareciam tornar-se realidade eu era acordado com o carro na areia e sendo chacoalhado para montarmos a barrava de Camping. E então abria os olhos e via a chuva correndo pelos vidros do carro e pedia para parar numa pousada mais próxima e minha patroa chacoalhava e dizia com toda as forças do seu coração:,
- Acorda FDP, chegamos e é necessário montarmos a Barraca! Está chovendo!
Abria a porta vagarosamente e meu corpo quente insistia para que eu ficasse mais alguns minutos dentro do carro, mas não havia acordo, todos me puxavam para fora do veículo e eu saia cambaleando para montar a Barraca.
Nunca, jamais tinha montado uma barraca de Camping em toda a minha vida e existia a grande necessidade de montarmos rapidamente, pois a chuva insistia em não querer dar uma trégua.
Rapidamente saia à procura de algumas pessoas que pudessem ajudar-me naquela grande empreitada e sempre conseguia depois de percorrer várias barracas algum garoto que sempre dizia que adorava montar Barracas de Camping e assim o garoto montava quase que tudo sozinho a nossa Barraca.
Agradecíamos ao garoto e começávamos a colocar nossos colchonetes para dentro da barraca e logo após os mantimentos, fogão e tudo aquilo que existia dentro do carro.
Quando tudo parecia tranqüilo,e todo o pessoal estava dormindo tinha uma grande vontade de beber algumas cervejas bem geladas e saia à procura da tal cerveja e a encontrava num distante quiosque com pessoas cantando e outras dançando e encostava meu umbigo no balcão e pedia uma cerveja.
Com uma voz barítono aparecia uma linda garota e perguntava-me educadamente o que eu queria e dizia a ela que queria uma cerveja muito gelada para beber no balcão e prontamente era atendido.
Após várias cervejas bebidas começava a ensaiar os meus primeiros passos de dança imbuídos sobre o efeito do álcool e assim continuava até que inesperadamente aparecia minha esposa com um enorme facão dizendo que iria cortar meu “bilau”. Rapidamente despedia-me de todos e seguia em passos trôpegos acompanhando minha amada. Que vergonha! Mas não conseguia esquecer minha última parceira de dança, uma moreninha maravilhosa que dançava alegremente por todo o quiosque.
Chegávamos à Barraca e meu colchonete era apresentado, jogava-me pesadamente sobre o mesmo e adormecia com os passos da linda garota dançando na minha mente. Escutava um raivoso Boa noite e durma com Deus da minha patroa e adormecia sonhando com as minhas férias.
No outro dia o Sol fazia-se presente, levantava-me sorrateiramente e sentava-me na areia, em frente a barraca de camping e ficava vários minutos refletindo sobre o acontecido no dia anterior e prometia a mim mesmo que a partir daquele dia não faria mais patifarias. Ficamos um mês acampados na Praia da Mocóca em Caraguatatuba e aprendi que nossos impulsos e emoções nos levam a cometer alguns absurdos como o ocorrido. Foi uma das melhores férias da minha vida! Quantas patifarias! Bela recordação!