A morte
A morte é um assunto que sempre apresenta controvérsias.
Passei os meus últimos 19 anos procurando deuses que me convencessem da sua validez, histórias que não precisassem de milagres pra acontecer, instituições religiosas que não abusassem da fé de pessoas ingenuamente crédulas.
Não encontrei.
Diante dos meus olhos, adão e eva viram personagens de contos-de-fada que eu acomodaria perfeitamente na estante ao lado da cinderela, do pinóquio e dos três porquinhos.
Pra não me tornar uma descrente da vida, passei a acreditar em alguma coisa, sem saber direito que coisa é essa.
Eu não me sinto profundamente incomodada pelas questões do mundo. como ele começou e como ele acabará, pouco me importa. E quem sabe, com uma alimentação um pouco mais saudável, garanto meu lugar no camarote para assistir o final da saga humana na terra.
Muitas vezes, nos forçam a acreditar em algo antes mesmo de aprendermos a falar, visto que batizados usualmente se encaixam em uma dessas ordens.
É então que, nessa busca incessante pela "paz de espírito", as pessoas começam a cogitar possibilidades mirabolantes para a morte, ou melhor, pro que acontece depois dela.
Independente de virarmos estrelas, de voltarmos em outros corpos, de irmos pro céu, pro inferno ou pro purgatório, inquietante mesmo é a sensação de que o fim é o fim, em definitivo.
Inquietante por nos obrigar a aceitar a idéia de que a luta de todos os dias por algo que faça diferença vai embora com o nosso corpo, de repente, como se não tivesse nenhum valor, como se ninguém reconhecesse o nosso esforço.
Mas pensando bem, pra que queremos voltar e passar por tudo denovo?
Pra que queremos, como uns dizem, estar lá em cima, vendo maravilhas e absurdos, de mãos atadas?
A mim parece muito mais perturbador o ciclo que o fim.
Suposições não devem ser utilizadas como muletas.
Elas devem na verdade ser o ponto de partida pra conscientização coletiva do valor embutido nessa correria segundo-a-segundo da realidade.