O EMOCIONANTE DESFILE QUE EMOCIONOU
"Só os sonhadores podem nos ensinar a voar."
Anne Marie Pierce
Sábado último, passado, 25 de fevereiro, Lamartine, meu amigo, me convidou para assistirmos ao desfile das escolas de samba campeãs do ano de 2012. Fui temeroso, desconfiando estava eu, de não suportar 11 horas sentado sobre a dureza cimentada do Sambódromo, obra magistral de Oscar Niemeyer.
O evento começou por volta das 21 horas, numa noite quente de verão, num ambiente alegre e festivo por parte da assistência que se dividia em gritos e aplausos às escolas preferidas. Constatei a beleza da "ópera brasileira" ambientada naquele reduto mágico e incrivelmente belo onde o inimaginável cria forma, onde o sonho nos transporta ao "reino do faz de conta" e nos enche de uma prazerosa musicalidade. Em realidade, é um espetáculo único na face da terra, sem simulitude e com muita brasilidade autêntica; ingredientes para uma viagem sem precedente na vida de todos nós.
Realmente, é uma missão difícil escolher a melhor dentre as melhores escolas de samba por parte dos jurados deste radioso evento: descobrir a mínima falha para pontuar a concorrente. Seis escolas de samba se apresentaram de acordo com a classificação: a Portela, dona de um samba belíssimo, bem elaborado, de fina reputação que trazia Vanessa da Mata caracterizada de uma eterna Clara Nunes, feito que desperta uma grande saudade da intérpetre longitudinal "Feira de Mangaio". A emoção foi num crescendo à medida que transcorria o desfile até chegar no Salgueiro, a vice campeã, quando o coração bateu mais forte quando li no imenso painel de apresentação da escola o nome J. Borges. É uma emoção tão confusa, faltam palavras para traduzir a verdade: será que estou no Rio de Janeiro ou estou em Bezerros? (cidade do agreste pernambucano onde J. Borges reside) discorrendo loas a respeito deste homem que "cabra da peste é", do "Pavão Misterioso" nos deleita, (retratado num belíssimo carro) versejador ou xilogravador das coisas do nordeste - "não se avexe não bixim mas tô danado pra versar na academia"
A emoção não parou por aí, tinha mais, muito mais de emoção e encantamento: era a vez do Rei Lua ser homenageado. "Oxente! Tô nome feito no estrangeiro?" com certeza diria o saudoso Luiz Gonzaga se estivesse presente nesta justa homenagem, onde se lia em revistas espalhadas pelo sambódrimo e mundo afora: "The day on which all the royalty landed on the Avenue to crown King LUIZ of the Sertão" - "O dia em que toda a realeza desembarcou na Avenida para coroar o Rei Luiz do Sertão". É prá chorar, não?
Paulo Barros também trabalhou na Varig, homem viajado e versado nas coisas do samba, também versado na paixão do povo nordestino, colocou todo o seu sentimento na composição desta homenagem ao eterno cantor dos usos e costumes da gente do sertão. A profecia "seu dotô uma esmola para um homem que é são, ou lhe mata de vergonha, ou vicia o cidadão." O que diria Luiz Gonzaga, se vivo fosse, a respeito de Lula que viciou o nordestino com a famigerada "bolsa família"? Com certeza diria: "Seu dotô essa esmola, para um homem que é são, o sinhô cometeu um crime, viciou o cidadão."
À medida que a escola de samba Unidos da Tijuca avançava, a magia crescia, o forró aparecia, a sanfona fechava e abria, tudo isso em sintonia com um momento de harmonia. Meu Deus do Pé de Sarra! Lá vem um carro com peixes pulando na água doce do Riacho do Navio! A genialidade de Paulo Barros foi tanta que "virou abuso, sim sinhô"! Lá vem Carolina com seu cheiro de fulô, a menina enjoada da boneca, dos meus olhos faíscas saiam, brilhos de saudade, amor e torpor, lá vem a Feira de Caruaru com bonecos de Vitalino, vivos, olhos típicos dos bonecos originais, cor de barro que os constituem, vôos acrobáticos os bonecos faziam, em acenos nos enterneciam. Meu Deus que Paulo Barros é esse que consegue arrancar emoção do coração mais empedernido? Culminando a mágica apresentação, nessa "viagem arretada, cabra da peste" lá vem ela, ave de arribação, voando na contra mão da sina, um verdadeiro aluvião, Asa Branca voa sobre a dor de Assum Preto que, sem refresco, fez chorar o meu coração. Num ponto estretégico, solto no ar da Avenida, sobressaindo-se de sua mais cantada criação, eis um Luiz com a sanfona e tudo, como a dizer a todos nós: "Luiz respeita Januário!!!"
Lula, Dilma e PT, respeitem o que diz este nordestino centenário em idade, mas jovem no coração: "A triste partida" ainda existe porque vocês assim o querem, estendendo vida severina sem poder ir simbora porque vocês estão atraindo a noite que vem sem gáudio ou beneplácito. Mesmo sem cuidado com as coisas do Brasil, na "carruagem da folia" hoje tem coroação, Luiz Gonzaga que não é somente rei do Sertão, foi coroado Rei da Brasileira nação!.
Parabéns Paulo Barros! Obrigado por sua gentil escolha neste enredo colossal!
E o medo da longa espera sumiu, o tempo foi exíguo face a tanto encanto que no Sambódrimo vivi. O dia amanhecia quando deixamos o sambódromo cheios de emoção e felicidade...
clira