Será que eles não estavam bons da cabeça?

 


 

 

Minha mãe já velhinha morava com um dos meus irmãos em Caçapava. Quando eu chegava, às vezes ela dizia: sabe, agora nós estamos em Jambeiro, mas a casa é igualzinha, nem parece que mudamos. Eu desconversava, mudava de assunto, achava melhor não dar corda à sua imaginação. Conversávamos sobre outras coisas que ela acompanhava com lucidez. De repente, num outro dia, ela voltava à carga: puseram a casa em cima do caminhão, com tudo dentro, foi muito fácil, nem deu trabalho... Lá pela terceira vez que ouvi a mesma história comecei a ficar preocupada. Que velhinhos confundam as coisas e fiquem fora do ar de vez em quando, até compreendo. Que ela falasse em Jambeiro não me pareceu tão absurdo, pois seu pai era de lá e talvez ela estivesse lembrando histórias que ele contava. Até eu me lembro, quando vovô dizia que sua casa foi alagada durante uma enchente e ele, menino ainda, ficou horas em cima de um armário muito alto. Mas o ‘fato’ da casa ter sido levada pelo caminhão é que me encafifou. Fui conversar com meu irmão. Ele pediu que eu me acalmasse, não se tratava de loucura nenhuma. Chamou-me para ver televisão. Será que ele também não estava bom da cabeça?...

 

Na hora do intervalo fez um gesto para que eu prestasse atenção. A propaganda da loja Não Sei o Quê, aos berros, falava de um concurso cujo prêmio mais valioso era uma casa. Em meio ao falatório imagens se sucediam. Primeiro aparecia só a casa; depois, ‘a casa inteira’ (com telhado e tudo) sendo levada na carroceria de um caminhão, até que a entregavam ao felizardo vencedor. Comecei a entender.

 

Como dona Laura passava a tarde toda assistindo filminhos na tv, via esta cena duzentas vezes por dia e então sua cabeça voava...