O CHICLETINHO

Existe um tipo de ser humano, que não pinta o rosto de branco, não usa nariz de plástico vermelho, não veste roupas folgadas, não calça sapatos enormes, mas ou eles nos enxergam com indumentárias de palhaços, ou somos nós é que os vemos assim.

Hoje a sociedade os chama de “sem noção”, criando uma locução adjetiva bem adequada ao caráter desse pessoal, que, na verdade se subdivide em dois tipos: Os “sem noção de respeito” e os “sem noção de bom senso”.

Esse primeiro tipo mata a gente de raiva, porque é capaz de obrigar todo mundo a ouvir a porcaria do gosto musical dele (na altura absurda como ele gosta); de estacionar em frente de garagens, em vagas de idosos ou de deficientes físicos; de se esgueirar em filas até furá-las; de conversar alto ao celular; de conversar fiado dentro de cinema; de fingir que está dormindo dentro de ônibus para não ceder assentos aos idosos ou às grávidas...

Não se espante se algum deles chegar a sua casa sem avisar, abrir a geladeira, reclamar que o café está frio, comer tudo sem se preocupar se ainda há gente para se alimentar, falar palavrão, arrotar à mesa e/ou pular na piscina do prédio, pouco se lixando se a convenção do condomínio permite ou não.

Na verdade, os “sem noção de respeito” são descendentes de velhos conhecidos nossos: os “sem educação”.

Já os “sem noção de bom senso” conseguem nos fazer rir, porque seus comportamentos nos levam a pensar que eles tomaram alguma queda quando crianças, bateram as cabeças no meio fio..... ficaram um pouquinho lesadas. Nesse grupo incluo as balzaquianas que insistem em ter um visual incompatível com a idade: cabelos compridos, minissaias e decotes generosos, bem como os homens que pintam cabelos e bigodes.

Nele enquadram-se, também, os hóspedes que passam a adorar você e a sua casa, tal como vivenciaram meus amigos Whelligton Renan e Regina Lúcia, recentemente. Após acolher uma rapaziada de Vitória em sua casa do Pontal do Ipiranga, um dos jovens, de 18 anos, não queria ir mais embora de jeito nenhum.

Forçado a partir em função do grupo que precisava de trabalhar, ele deu um jeito de voltar no final de semana seguinte e passou a ser o “filho” deles, deitando-se na mesma cama, fazendo cafuné nos novos “pais”, acompanhando-os aos eventos sociais, pulando nas piscinas, divertindo as crianças dos casais amigos, ouvindo as conversas de adultos...

Foi assim que ele ouviu de mim o comentário sobre o aniversário de 15 anos de Nicole, que aconteceria em duas semanas. Sem que eu concluísse minha fala, ele levantou o dedo indicador e me perguntou: “Quando é mesmo o aniversário de minha amiga Nicole?”

Tive um acesso de riso, porque a aniversariante mora em Boston e ele não a conhece, absolutamente. A seguir, refleti melhor sobre a fala dele e concluí que nem todo “sem noção de bom senso”, efetivamente o é, pois pode, simplesmente, ser uma pessoa carente de afeto e, portanto, merecedora do nosso respeito.

De lá para cá, lembro-me com carinho do rosto do “chicletinho” que quer muito pertencer à família Rabello Reis.

NORMA ASTRÉA
Enviado por NORMA ASTRÉA em 27/02/2012
Reeditado em 27/02/2012
Código do texto: T3523598
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