Beleza Americana
- Andei pensando o quanto nossa adolescência tinha sido diferente. Jonatan, pega a cebola e os tomates para mim. Você está me ouvido?
- Claro, meu anjo.
- Acho que amadurecíamos mais cedo antigamente.
- A cebola que tem casca ou sem?
- Sem. Era muito comum na nossa época casar-se dos dezoito aos dezesseis. Lembra da Cidinha com quinze? Essa sempre foi precoce!
- Mas bem casada até hoje.
- Disso não tenha dúvida, o Abelardo é o homem que toda mulher sonha.
- Ah! Então o Abelardão é o sonho de consumo de toda mulher?
Desconversando, Eliza, acrescenta: - E isso já tem uns vinte anos, né amor? Sabe, Jonatan, a Laila é que me preocupa com esses seus comportamentos instáveis. Já era para ela estar casada e com filhos.
- Liza, vivemos uma outra época. A Laila é jovem, e as mulheres de hoje costumam se casar beirando os trinta, quando já têm um emprego estável, e são totalmente independentes.
- Sim. Mas a nossa filha já é totalmente independente, e além de tudo possui um ótimo emprego. O único problema dela é essa sua instabilidade. Aos vinte e seis anos já era para ela ter sua casa e seu carro, porque dinheiro ela já teria guardado o suficiente, se não fossem as desnecessárias cirurgias no seio, no queixo e na orelha. Parece até que quer parecer uma estrela de Hollywood. Será que já não é o bastante?
- Liza, meu bem, não vejo nada de anormal na Laila. Isso é coisa de aceitação pelo grupo com que ela se relaciona.
- Então, por que ela muda tanto de grupo? Aos quinze não quis fazer festa de debutante, e nos convenceu em alugar aquele salão escuro, onde tocou a noite toda músicas de velório, com gente vestindo preto até nos olhos. Quando entrou na faculdade, abandonou os “zumbis” e começou a sair com aquele cabeludo estranho e usar calças largas, bolsas de tricô e faixas na cabeça. E agora essas modificações no corpo sem qualquer necessidade. Estou realmente preocupada, Jonatan. Semana passada ela disse que me faria uma surpresa no dia das mães. Eu não sei, todas as vezes que ela me surpreende eu acabo indo para o hospital. Desta vez, estou com medo.
- Bobeira Liza. Ela vai te apresentar um namorado novo, ou vai dizer que vai passar um tempo nos E.U.A. para cursar uma bolsa da empresa, ou alguma coisa do gênero, e saudável.
Jonatan, pega os pratos, chama a mamãe e a Laila; eu vou tirar a lasanha do forno e pôr a mesa.
Balançando a cabeça, em gesto de negação, e subindo as escadas do sobrado, Jonatan pensava “mulheres....sempre imprevisíveis e incompreensíveis; se preocupam com cada coisa”. Ao chegar na porta do quarto de Laila, bateu na porta e lhe chamou: - Laila, acorda, já pode sair, sua mãe já terminou o almoço e sua avó está lá em baixo.
E Laila gritou: - Só um minuto pai, eu estou saindo.
Depois de alguns minutos, a porta se abriu e Jonatan deu um passo para trás, dizendo: - Oh meu Deus! Michael? Você é o novo namorado da Laila?
- Não pai. Sou eu, sua filha. O que achou?
Sem muito entender o que estava acontecendo, Jonatan disse baixinho: - Mas por que o Michael Jackson, Laila?
- O quê, pai? Quê disse? Você não gostou da minha nova cirurgia plástica?
- Na verdade o almoço ainda vai demorar um pouco Laila. Acho melhor você esperar aqui. Preciso antes conversar com sua mãe, senão ela não vai resistir.