MAS QUEM DISSE QUE SOU POETA ?

 

     Creio que ainda era bem criança quando ouvi pela primeira vez a palavra “poeta” e só mesmo quando já era adolescente é que comecei a idealizar o personagem .

     Na minha mente poetas eram todos aqueles que tinha cabelos compridos, bem maiores do que o normal e invariavelmente sofriam por amores desfeitos e paixões desenfreadas , que na verdade não duravam muito .

     Não me lembro de ter conhecido nenhum poeta que não bebesse a ponto de se embriagar com frequência , que fumasse exageradamente além de todos eles serem excessivamente magros . Também não me lembro de ter ouvido falar, na minha adolescência , de nenhum poeta gordo .

     Comecei a tomar gosto pela poesia quando escutei os primeiros versos das modas caipiras e passei a detestar essa mesma poesia quando tive , pela primeira e desastrada vez, contato com os perfeitos versos dos Lusíadas . Pensava que jamais outra pessoa seria capaz de escrever  sequência tão perfeita , alguns versos até incompreensíveis, como Camões .

     Fui crescendo, amadurecendo e conheci outros poetas, cheguei mesmo a ter um amigo que era apaixonado por uma mulher casada e que fazia versos , bebia muito e era tão magro que seu apelido era “esqueleto”.

    Mas ainda assim, ele sempre fez questão de defender    que    era um poeta apaixonado e que sua musa, mais dia menos dia se tornaria sua amante . A dúvida no caso seria saber se, tendo sua musa como amante ele continuaria sendo um poeta .

    O tempo continuou passando, comecei a tomar gosto pelos rabiscos e eis que um belo dia me surpreendi    com    a possibilidade de fazer algumas rimas pobres , bem pobres rimas é bem verdade. Só que, não tinha musa, não era tão magro assim e nem tinha cabelo comprido mas , na época que descobri o gosto pelas letras também aprendi a beber . Pelo menos isso , pelo menos na minha cabeça, tinha algo em comum com os poetas .

    Hoje em dia, talvez por ter aprendido a aproveitar melhor o meu tempo, quem sabe por ter pouca coisa mais séria a fazer já não bebo , passo muito tempo rabiscando, buscando fórmulas novas de combinar letras , abrindo o coração para colocar no papel o que sou, como sou, como penso, o que sinto, o que sonho (e como sonho!) .

     Mas sinto que ainda falta muito para me considerar um poeta . Mas muito mesmo ! Ainda que deixasse o cabelo crescer e penso que até não ficaria tal mal assim , de longos cabelos prateados e com alguns cachos , faltaria muito para me considerar um poeta . Poderia até voltar a beber e aprender a fumar mas, não sei se valeria a pena .

     Também, já não tenho musa e nenhuma paixão , tenho alguns assuntos de amor mal resolvidos e que quando me lembro incomodam mas, ainda falta muito para ser um poeta .

      Talvez eu escreva um livro só de poemas mas, para escrever um poema preciso estar motivado,    ter uma paixão e, se servir de inspiração posso até deixar o cabelo e a barba crescerem . Pode dar certo mas, para ser poeta, ainda falta muito .

     E pensando bem, já maduro, vivido, ainda aprendendo a soletrar decassílabos, o que é mesmo um poeta ? Ou melhor, como é que se comporta um poeta de verdade ?

     Será que terei mesmo que deixar a barba e o cabelo crescerem ? Vamos fazer assim, na dúvida vou ver se arranjo uma musa, dessas bem calmas e pacientes, vou dar corda e abrir as portas do meu coração, passar a beber só vinho do Porto , procurar rabiscar uns versinhos mais melosos mas com tudo isso e depois disso , alguém vai dizer que sou um poeta ?

       Creio que não .....

 

 

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(.....imagens google.....)
WRAMOS
Enviado por WRAMOS em 26/02/2012
Reeditado em 29/05/2013
Código do texto: T3522162
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