No caminho tinha uma cisterna, tinha uma cisterna...
Ygor da Silva Coelho
Nos meus 35 anos de trabalho no Ministério da Agricultura e na Embrapa realizei muitas viagens pelo Brasil e mundo afora, discutindo fruticultura, proferindo palestra, avaliando novas áreas e fronteiras agrícolas para implantação de cultivos de frutas tropicais. O meu bom relacionamento com as instituições agrícolas do Ceará, como a antiga EPACE, a Ematerce e a Embrapa local, tornaram freqüentes as minhas idas àquele Estado.
No Ceará, o Vale do Jaguaribe sempre me encantou por suas tradições, beleza e potencial agrícola. Fato comprovado nos dias de hoje, quando a Região já se transformou num celeiro de produção de frutas e hortaliças, tendo experimentado nos últimos dez anos um crescimento no valor da produção superior a 500%.
A mais empolgante das minhas idas ao Vale do Jaguaribe foi quando, por indicação de colegas do Ministério da Agricultura, eu fui uma das 100 personalidades a ter um encontro com o então Presidente Fernando Henrique Cardoso, em passagem pela Região, para visitar a construção de açudes e obras de projetos de irrigação. No clube da pequena cidade de Russas, ouvimos o Presidente, acompanhado do Governador Tasso Jereissati, e sugerimos políticas agrícolas direcionadas para o desenvolvimento.
Já a mais preocupante das viagens ao Vale do Jaguaribe, no entanto, ocorreu alguns anos antes do encontro com o Presidente, quando nossa presença na cidade coincidiu com a reinauguração de uma Estação Experimental lá existente. A Estação, dentre outros experimentos, tinha uma coleção de variedades de citros fornecida pela Embrapa e utilizada no trabalho de replantio dos pomares envelhecidos da Região.
Uma inauguração desta natureza, numa cidade pequena, sempre atrai público considerável, que ao campo se dirige para ver as autoridades, fazer as suas reivindicações ou simplesmente desfrutar da feijoada e da cerveja comemorativa do evento. A Estação fervilhava de gente, umas trezentas pessoas, acotovelando-se e procurando sombra ao lado de belas laranjeiras, que exibiam a exuberância dos seus frutos, típicos do outono no Vale. Nas proximidades, uma cisterna com o tampão um pouco mais alto, servia de palanque para as autoridades ficarem mais destacadas e vistas por todos os presentes.
Assim, uma a uma as autoridades foram subindo no “palco” e desfilando seus discursos, tudo organizado conforme manda o cerimonial: primeiro o presidente do Sindicato, depois o Representante da Embrapa, o presidente da Câmara, o Secretário da Agricultura do Município, o Prefeito e, por fim, o respeitado Diretor da Instituição. Aquele que na Estação Experimental era a autoridade maior, o homem que dedicou sua vida e intenso amor ao campo, agrônomo único na cidade, que tinha sempre uma resposta para os problemas agrícolas, uma semente disponível, uma muda frutífera para doar.
Sob aplausos, o experimentado anfitrião subiu ao “palco” para as palavras finais. A emoção devia ser muita, pois raras deveriam ser as ocasiões em que o seu campo experimental recebia tamanha comitiva. E naquele clima, gesticulando empolgado, um passo à frente, um passo atrás, uma das tábuas que recobriam a cisterna cedeu e o Diretor, desafortunadamente, caiu na cisterna. Susto e corre-corre geral!!!
Por sorte, o lençol freático no local é raso e a cisterna, sem uso, acomodara ao longo dos anos uma camada de lama, que amorteceu a queda. Retirado rapidamente, sob aplausos ainda maiores do que no início do seu discurso, o Diretor, graça divina, mostrava apenas escoriações nos braços e a alva roupa de linho totalmente enlameada. Nada que impedisse a sua participação na feijoada, depois da rápida ida ao posto médico e da troca de roupa... Felizmente.
Ygor da Silva Coelho
Nos meus 35 anos de trabalho no Ministério da Agricultura e na Embrapa realizei muitas viagens pelo Brasil e mundo afora, discutindo fruticultura, proferindo palestra, avaliando novas áreas e fronteiras agrícolas para implantação de cultivos de frutas tropicais. O meu bom relacionamento com as instituições agrícolas do Ceará, como a antiga EPACE, a Ematerce e a Embrapa local, tornaram freqüentes as minhas idas àquele Estado.
No Ceará, o Vale do Jaguaribe sempre me encantou por suas tradições, beleza e potencial agrícola. Fato comprovado nos dias de hoje, quando a Região já se transformou num celeiro de produção de frutas e hortaliças, tendo experimentado nos últimos dez anos um crescimento no valor da produção superior a 500%.
A mais empolgante das minhas idas ao Vale do Jaguaribe foi quando, por indicação de colegas do Ministério da Agricultura, eu fui uma das 100 personalidades a ter um encontro com o então Presidente Fernando Henrique Cardoso, em passagem pela Região, para visitar a construção de açudes e obras de projetos de irrigação. No clube da pequena cidade de Russas, ouvimos o Presidente, acompanhado do Governador Tasso Jereissati, e sugerimos políticas agrícolas direcionadas para o desenvolvimento.
Já a mais preocupante das viagens ao Vale do Jaguaribe, no entanto, ocorreu alguns anos antes do encontro com o Presidente, quando nossa presença na cidade coincidiu com a reinauguração de uma Estação Experimental lá existente. A Estação, dentre outros experimentos, tinha uma coleção de variedades de citros fornecida pela Embrapa e utilizada no trabalho de replantio dos pomares envelhecidos da Região.
Uma inauguração desta natureza, numa cidade pequena, sempre atrai público considerável, que ao campo se dirige para ver as autoridades, fazer as suas reivindicações ou simplesmente desfrutar da feijoada e da cerveja comemorativa do evento. A Estação fervilhava de gente, umas trezentas pessoas, acotovelando-se e procurando sombra ao lado de belas laranjeiras, que exibiam a exuberância dos seus frutos, típicos do outono no Vale. Nas proximidades, uma cisterna com o tampão um pouco mais alto, servia de palanque para as autoridades ficarem mais destacadas e vistas por todos os presentes.
Assim, uma a uma as autoridades foram subindo no “palco” e desfilando seus discursos, tudo organizado conforme manda o cerimonial: primeiro o presidente do Sindicato, depois o Representante da Embrapa, o presidente da Câmara, o Secretário da Agricultura do Município, o Prefeito e, por fim, o respeitado Diretor da Instituição. Aquele que na Estação Experimental era a autoridade maior, o homem que dedicou sua vida e intenso amor ao campo, agrônomo único na cidade, que tinha sempre uma resposta para os problemas agrícolas, uma semente disponível, uma muda frutífera para doar.
Sob aplausos, o experimentado anfitrião subiu ao “palco” para as palavras finais. A emoção devia ser muita, pois raras deveriam ser as ocasiões em que o seu campo experimental recebia tamanha comitiva. E naquele clima, gesticulando empolgado, um passo à frente, um passo atrás, uma das tábuas que recobriam a cisterna cedeu e o Diretor, desafortunadamente, caiu na cisterna. Susto e corre-corre geral!!!
Por sorte, o lençol freático no local é raso e a cisterna, sem uso, acomodara ao longo dos anos uma camada de lama, que amorteceu a queda. Retirado rapidamente, sob aplausos ainda maiores do que no início do seu discurso, o Diretor, graça divina, mostrava apenas escoriações nos braços e a alva roupa de linho totalmente enlameada. Nada que impedisse a sua participação na feijoada, depois da rápida ida ao posto médico e da troca de roupa... Felizmente.