_Nordestinês

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Amanheci solto na bagaceira!

Ontem, minha namorada terminou um chamego de três anos e pegou o beco. “Homi, você não se emenda!”, disse minha ex, antes de soltar os cachorros e sair da minha casa, feito mulesta. Até quis espiar a disgramada indo embora, mas resolvi suportar tudo caladinho, na minha. Sei lá se numa tentativa de segurá-la a infeliz não me sentava a mãozada!

Pra relaxar um pouco fui ao bar de um primo meu. Tomei uma daquelas pingas brabas que a gente mede a qualidade pelo tanto de teia de aranha que tem envolvendo a carapaça da branquinha; e pela quantidade de ferrugem que a tampa da garrafa contém – pela cara da bicha, era uma das antigas, do tempo do ronca!

Apesar do fora da namorada, eu era um cabra cagado da gota serena, daqueles que não leva carreira da PM e sempre escapa durante as buscas de armas que esse povo dá durante as blitz. Graças ao meu Padim, nunca levantaram meus fundos das calças pra me revirar nas pontas dos pés com o corpo de costas para o mundo. Já testemunhei alguns do povo sendo revistado. Na posição que ficavam pra revista, vendo as paredes dos botecos com as pernas abertas, os “agraciados” ficavam em crucifixo igual a Jesus Cristo. Com a cara na parede ficava difícil descortinar o brilho das estrelas e o romantismo da noite se perdia...

Dei uma golada na pinga. A mardita desceu ardendo e queimando tanto que o povo não se aguentou e todo mundo do bar do Seu Quermezé começou a mangar de mim. Minha golada foi a resenha de quase meia hora de riso brabo do povo do bar! Confesso que senti saudade do tempo em que bebia água e garapa feita pela minha vozinha já falecida. Essa “água que passarinho não bebe” é braba demais, macho!

Povo observador demais – como deu fé de mim bebendo discretamente no cantinho da parede? Tive vontade mesmo foi de sair do bar feito burro brabo, desembestado... Que falassem depois. Não estaria lá mesmo pra saber!

– Seu “minino”, arroxa essa pinga que o negócio é bão! – foi o incentivo que recebi de um pinguço que estava sentado na outra ponta do balcão. Que azar o meu! Até esse filho duma égua viu minha careta e meu mungango, bebendo a maldita da cachaça!

Fiz uns “arrudeios” e resolvi ir embora, sem olhar pra trás! Andei alguns passos e parei. Esperei mais um pedacinho pra ver se alguém me vaiava, mas dei sorte e ninguém se aproveitou. Sem me arretar e com a cara mais “apombaiada” do mundo, desaprumei na porra duma pedra e levei uma topada que me fez gemer feito égua desmamada, ou “homi véio” quando tem crise de hemorroida! Que dor sem noção. A cabeça do meu dedo pulsava como barriga pouco antes da caganeira apertar. O dedão pulsava, balançava mais que cabeça de calango quando olha pra gente, antes de levar pedrada – coisa boa é derrubar calango montado em lateral de parede!

Dessa vez não teve jeito. O povo começou a gritar como no gol do Ronaldo Angelim, no título do Mengão. Estava que não sabia onde colocar a cabeça de tão encabulado – fiquei mesmo foi todo errado! A única cabeça que não me deixava em paz era a do dedo que, agora, além de doendo feito gota, estava inchada e ficando roxa como beirada de bunda de alguns bebês.

Fiquei engomando um pouco mais. Fiz cara de dor e de tristeza, mas o povo não arredava o pé – todos eles, até o cu-de-cana do bar, estavam me zoando. Era uma “zuada” que não tinha tamanho!

Eita que vida sofrida essa de ex-namorado. Agora, além de ter que ficar em casa segurando vela, enquanto meu irmão dava uns amassos na namorada, ainda teria que me esconder desse povo – as notícias se espalham rápidas demais no interior e certamente virarei motivo de gozação por bom tempo, quem sabe pela vida toda!

Que vontade de torar minha namorada! Minha fama de macho e desenrolado estava ameaçada. Nunca fui estribado, mas a mulherada me cedia uma prosa e era tiro e queda: bingo!

Estava mesmo era num dia de azar. Perdi a namorada ontem. Fiquei sem o “de cumê” hoje no almoço. Perdi a merenda da escola e acabei de levar um carão da mamãe por tentar comer o restinho de comida da geladeira: “Esse menino nunca enche esse bucho!” – foi o que ouvi da mainha, enquanto levava um cascudo, mais um dois que ela adora me dar!

Tudo bem que não queria casar com a dita cuja, queria só juntar os panos, queria me amigar. Mas ela me jogou no abismo, na escuridão e nas trevas da humilhação...

Será que ela me deixou por causa da suvaqueira? Não podia ser! Estava me tratando com limão. Minha mãe falou que era bom passar um limãozinho na hora do banho... O mau cheiro do "suvaco" estava – até – diminuindo. Foi mesmo por causa da minha raparigagem, claro que foi! Que outros motivos a finada teria para me abandonar?

Que saudade da minha magrinha desenrolada e dos cambitos finos! Tudo porque sou um raparigueiro! Sou inveterado. Gosto do produto, paciência!

Que saudade do meu primeiro dia com a bichinha... Ela caiu molinho no meu leriado! Foram dias "tucaiando" antes de atacar de vez, pra valer! Eu estava sozinho, a bichinha me deixou e fez eu me lascar todinho! Fiquei tão amuado com a separação que pareço bicho do mato vendo malassombros como aquele bebum, filho-de-uma-égua, que me agoniou lá no bar! Ah se eu pego esse filho de quenga sozinho dando mole! Sou gente fina, mas sei ser cabuloso quando precisa. Se encontro esse cachaceiro por aí, dou trato nele antes mesmo de o sacana pinotar. Quem mandou arengar comigo?

Se minha bichinha estivesse pelo menos buchuda ainda tinha jeito da gente reaproximar. Mas a gente coisou faz tempo e já até desceu esse mês. Tem jeito não!

Eita que gota serena, que agonia! Ainda bem que sou cabra que aguenta “pêia”!

Pior que sou arriado os quatro pneus pela minha bichinha...

Fortaleza-CE, 16 de dezembro de 2009.

20h20min

Nijair Araújo Pinto
Enviado por Nijair Araújo Pinto em 26/02/2012
Código do texto: T3521977
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