INSÔNIA
Dizem que isso não só acontece com quem gosta de escrever e ler, mas também com quem gosta de tv, música e dança... Enfim, ninguém está livre da insônia, muito menos eu.
Troco o chocolate pela alface que dizem ser ótimo pra quem sofre desse mal. Fico então aqui na frente do computador, na Internet, lendo, escrevendo, teclando com amigos e, claro, comendo aquelas tenras e verdinhas folhas de alface.
Olho para o relógio e vejo que já é hora de dormir. A madrugada chegou e logo o despertador tocará aquele som odioso de buzina disparada avisando-me ser hora de acordar. Bem, sei que é hora de dormir, mas não estou com nem um pouco de sono.
A Cidade inteira parecer ter comido toda a plantação de alface que existe no planeta, pois dorme profundamente. A rua está calada. É um silêncio só. Só eu estou aqui com os olhos como dois grandes faróis a iluminar a noite, arregalados, esbugalhados, prontos para enxergarem até mesmo o que não se pode ver por vias oftalmológicas normais.
Faço tudo para dormir: Banho quente, já que dizem que é bom e relaxa. Não adianta! Fico ainda mais esperta, pronta pra recomeçar. Bem, não posso desanimar! Tento outras coisas, vejamos... Chá! Dizem também que chá ajuda a dormir. Vou à cozinha e preparo um delicioso chá de camomila. Tomo e já corro pro quarto pronta pra “apagar”. Rolo de um lado e de outro, a cama parece criar espinhos, mas o sono não chega. Canso. Levanto novamente e começo a andar. Em noites de insônia ver as pessoas dormindo é coisa que irrita. Como podem dormir assim tão profundamente? Dá vontade de gritar pra todo mundo ouvir “Acordem pelo amor de Deus, eu não consigo dormir!”
Chorar não adianta, contar carneirinhos menos ainda. Ligo a tv mas não consigo ficar sentada assistindo, mesmo porque me prendo à programação e acabo despertando ainda mais. Ligo o rádio. Quem sabe talvez, uma música zen me acalme. Começa a tocar Enya. Ótimo, penso que agora conseguirei pegar no sono. Engano. Meus pensamentos estavam tão ativos que a esperança de dormir fica distante.
No fracasso de mais uma tentativa desligo o rádio e recomeço a “caminhada” pelo meu quarto. Situação deprimente. Olho minha cachorra que dorme tranqüilamente o sono que eu queria pra mim. Até minha cachorra, e ainda dizem que cães são os melhores guardas que podemos ter. Onde? Tenho um guarda em casa que dorme em serviço. Continuo minhas investidas contra a insônia. Volto ao computador em busca de ajuda na internet, embora há quem diga que é algo péssimo pra quem sofre desse mal, afinal nos deixa despertos. Mesmo assim, sigo rumo às minhas pesquisas e quem sabe não encontro um remédio.
Acesso, site de busca, digito I N S Ô N I A . Pronto, logo aparecem os links e pesquiso pelo primeiro: Insônia: “Excesso de vigília, incapacidade de começar a dormir ou de manter o sono. A insônia não é considerada doença, mas conseqüência de algum problema ou enfermidade mais grave.” Então eu não tenho uma doença, mas um problema ou enfermidade grave. Pronto, nessas alturas os olhos arregalaram mais ainda.
Faço uma revisão da minha vida, desde o nascimento até o dia de hoje, e não descubro nada que pudesse ser o causador desse meu problema..
Tudo isso me deixa ainda mais ansiosa. Agora que o sono não chega mesmo. Fico preocupada com a possibilidade de ter alguma enfermidade desconhecida, e começo a ter vários pensamentos: Para quem seria a primeira carta de despedida que eu escreveria? Será que estava condenada a morte e não sabia? Decido não mais escrever. Decido que como a enfermidade me surpreendeu, a minha morte também seria surpresa para todos os meus amigos.
Olho novamente o relógio e faço as contas de quantas horas de sono ainda tenho até o primeiro toque do meu despertador. Necessitava dormir, enferma ou não.
No desespero e completamente desperta volto ao computador para desligá-lo, quando vejo o parágrafo seguinte do texto da insônia: A insônia pode ser causa de ansiedade e depressão. Pulo de alegria, afinal, ansiosa eu sempre fui e nunca morri por causa disso.
Nessa altura da vida, já havíamos até virado boas amigas, companheiras de jornada, irmãs inseparáveis, unha e carne.
Diante da maravilhosa descoberta, deito na minha cama macia e confortável, sinto-me flutuando em nuvens... Sensação do sono chegando e meu corpo se entregando, quando num barulho ensurdecedor o despertador toca.
Rapidamente levanto, tomo um banho, bebo um café para me manter acordada e sigo para o trabalho. Lá, mal me agüento em pé. No rosto as marcas de uma noite mal dormida, ou melhor, nada dormida.
Olho no espelho e quase saio correndo diante da imagem que encontro, mas não tinha jeito, onde fosse aquela imagem fantasmagórica na qual me transformara, estaria comigo. Nesses casos, nada melhor que o bom e velho cosmético. Uma base ali, um pó acolá, cremes e tantas outras coisas. Pronto!
Confesso que me senti mumificada com tanta coisa, mas o esforço valeu à pena, pois estava pelo menos sem olheiras.
Com o sono me tirando a concentração, o tempo parecia estacionado, como se o relógio segurasse as horas em seus ponteiros. Tudo transcorria normalmente naquele dia. Todos trabalhavam, riam, conversavam, mas para mim, o tempo se arrastava ou eu me arrastava nele sonhando acordada com o momento em que pudesse me entregar ao sono que sentia. Finalmente chega o final do expediente e volto para o meu doce lar. Em casa, deito na minha cama na certeza de poder livrar-me do sono que tanto me atormentara durante todo aquele dia. Mas tudo volta ao normal. A Insônia chega comigo em minha cama, deita ao meu lado e avisa que será minha companheira por mais uma noite.