O BOM PASTOR DO TITANIC
Faz cem anos, no próximo mês de Abril, que o “Titanic” desapareceu com a maioria dos passageiros, nas geladas águas do oceano.
Muito se tem escrito sobre o navio que, no parecer do construtor, não podia naufragar…mesmo se Deus quisesse. Todos ou quase todos, conhecem a hedionda tragédia, que aconteceu a 14 de Abril de 1912, e raros são os que não se recordam do filme, cujo argumento se desenrola na primeira e derradeira viagem do fatídico navio. Mas, disso estou certo, poucos sabem quem foi John Harper: pastor evangélico, que embarcara na Grã-bretanha, para realizar série de pregações, em Chicago.
Seguia o vapor repleto de importantes homens de negócios, políticos e famosos milionários. Corria fácil o dinheiro no navio de luxo, mas Harper, como crente que era, aproveitava todas as ocasiões para falar de Jesus.
Até que, pelas 23H40, o sumptuoso navio embate, com estrondoso barulho, em gigantesco iceberg.
Como o barco era equipado com complexo sistema, que o tornava insubmersível, muitos passageiros mantiveram-se calmos, confiantes na técnica e experiência da tripulação.
John Harper corre ao quarto. Acorda, serenamente, a filha Nana, de seis anos, enrola-a numa manta, desce ao convés e confia-a ao capitão, que permanece num salva-vidas.
Antes, porém, abraça-a ternamente, e beija-a. Abundantes lágrimas escorrem-lhe pela face apreensiva.
Nesse comenos descobre que passageiro não tinha colete salva-vidas e dá-lhe o seu.
Anda à solta o pânico. Choros lancinantes e gritos de desespero correm desenfreadamente pelos alagados corredores.
Harper ajoelha-se, e ora; ora fervorosamente. Esperando por possível milagre, passageiros acercam-se do sacerdote.
As lágrimas deslizam pelo rosto pálido do pastor, que em voz suplicante, encorajado pela fé, depreca misericórdia; e…lentamente… muito lentamente… o vapor soçobra.
Noutro local, o Padre Joseph Peruschitz, muito angustiado, reza o terço, cercado de pequeno grupo de católicos, aterrorizados. Recusa abandonar o navio, cedendo o salva-vidas; enquanto o Padre Thomas Roussel Davids, que na hora do embate estava a ler o breviário, participa activamente na salvação de passageiros, recusando a possibilidade oferecida de sair do navio. Ficou a ouvir confissões dos que ficaram após a partida dos salva-vidas.
As águas, em turbilhões medonhos, entram desenfreadas pelas salas e salões ricamente decorados, espalhando pânico e desespero, entre os viajantes mais confiantes na salvação.
Inesperadamente, John Harper vê-se envolto em água gelada e mergulha em espessa e profunda escuridão.
Estende as mãos trementes, e encontra restos do desmantelado navio, que flutuam à flor das águas, e, tenazmente, agarra-se com inaudito afinco.
À volta é o desespero: gritos dilacerantes, preces e impropérios misturam-se num clamor de choros e gemidos. Terror indescritível; e o bom pastor sempre a recordar, que Jesus se lembraria deles no Seu reino: - ” Crê no Senhor Jesus Cristo e sereis salvos!”
Por largos momentos a voz reconfortante de Harper fez-se ouvir; bálsamo benfazejo para os náufragos, que, um a um, desaparecem nas profundezas oceânicas.
Sucumbe, por fim, pelo cansaço e pelo frio, emudecendo, enquanto o navio, que Deus não podia afundar, lentamente… muito lentamente…. mergulha em geladíssimas águas.
John Harper, *Joseph Peruschitz e Thomas Davids, foram esquecidos, e a História mal fala deles, mas os poucos sobreviventes continuaram a ouvir, ano após ano, a bem timbrada voz do Revº Harper: - “ A sua alma está salva? Crê em Jesus Cristo e sereis salvos!”
* Na abadia de Scheyem, na Baviera, junto ao túmulo do beneditino, pode-se ler: “Peruschitz, que a bordo do navio Titanic piedosamente se sacrificou.”