PORQUE FALO DE TRISTEZA...

 

 

Madrugada alta, vento soprando, chuva caindo. Trovões, relâmpagos e tudo o que  amedronta. Sempre tive medo de temporais. Hoje eu curto o barulho da chuva caindo na sacada, a magia da tempestade, a inspiração que brota mansa, natural, até mesmo em decorrência desses fenômenos constantes da natureza.
 
De repente a alma do poeta se manifesta, os pensamentos se transformam em melancolia e a tristeza toma forma de versos, crônicas, contos, prosa e muito mais! Quem ainda não experimentou, por mínimo tempo (que não dá para contabilizar em dados concretos), um instante de melancolia? Quem ainda não provou o gosto acre da tristeza, nem que por alguns segundos e retirou desses momentos o cerne de sua poesia?
 
Quem não se lamentou, não se odiou, não mutilou sua alma, que atire a primeira pedra! Falar de melancolia, desenhar versos de tristeza, é falar da vida! Porque a vida é isso. Ninguém é completamente feliz; não há indivíduo no mundo que aparente alegria vinte e quatro horas por dia, trinta dias em um mês, o ano todo, toda uma vida!
 
Escrever sobre o lado bom da vida é muito mais fácil e gratificante do que falar da verdade de todos. Somos felizes e infelizes; alegres e tristes; vitoriosos e fracassados. E, quando o escritor, o poeta aborda, com freqüência, esse tema, isto não significa, necessariamente, que ele seja tudo isso.
 
Falo sobre a magia da vida, sobre a beleza da natureza, sobre solidão, desilusão, amores e paixões (bem sucedidas, ou não). Também escrevo sobre o perfume das flores, sobre o canto mavioso dos pássaros, na árvore da praça em meu bairro. Gosto de descrever a beleza e magnitude da cidade onde vivo e sobre o sol que clareia a minha janela, ou a lua que inunda minha sacada, nas noites de meditação silenciosa.
 
Meus contos, crônicas, podem apresentar, por vezes, uma face exageradamente melancólica, isto é fato. Os sonetos que escrevo, seguem a linha de paixão, desilusão e cicatrizes de sofrimentos (tão comuns aos mais clássicos sonetos de todos os tempos), e, não raras vezes, eu também sei falar de amor, empreender um toque de sutileza a minha poesia que nasce de uma alma inquieta, de um coração ansioso que ama, sofre, ganha, perde, mas é feliz.
 
Que ninguém se deixe levar pelas palavras melancólicas, tristes, depressivas, talvez, com que assino meus escritos... É apenas o palco onde o poeta sente-se à vontade para representar, em palavras, o que lhe vai na alma. E assim, escrever sobre tudo que o rodeia. Simples assim!
 
 
(Milla Pereira)


N.A.


Tentando responder a alguns e-mails que recebi
me questionando porque escrevo sobre coisas tristes.
Se sou infeliz, depressiva, etc...
Espero ter respondido. Se não... paciência!