A DOBRADINHA QUE VIROU SERPENTINA
A DOBRADINHA QUE VIROU SERPENTINA!
Como um acidente perigoso pode se tornar um fato humorístico.
Foi num carnaval. A cidade, Porto Ferreira.
Estava eu, minha mulher Iara, e mais alguns casais, passando os dias daquele festejo na fazenda do Duílio. Deputado federal.
No sábado pela manhã, após o café e o tradicional bate-papo, o dono me convidou para irmos à cidade, fazer uma visita ao deputado estadual Dorival Braga, que ali residia. Tinha este, uma casa retirada do centro, além daquela em que morava. Servia para receber os correligionários, os amigos e aqueles bajuladores tradicionais de político. Como é comum nessas casas de campo, vamos assim defini-la, havia os cozinheiros, geralmente, barrigudinhos, sem camisa, que preparavam a comida sempre acompanhados do copo, ou de cerveja, ou de cachaça, ou de whisque. No caso, era este último.
Estavam em dois.
O anfitrião, o deputado visitante e eu, nos acomodamos num terraço, de modo que víamos, perfeitamente, os cozinheiros. Como gosto de reinar na cozinha, também, sou barrigudinho, porém, não tiro a camisa, ponho avental e dispenso o copo, após alguns instantes fui xeretar o trabalho dos dois. Eles eram daqueles que logo fazem amizade, homens do interior, e faladores. Estavam cozinhando dobradinha, que uns chamam de bucho, outros de tripa, numa panela de pressão. Aquele papo, copo cheio, garrafa numa mesinha, e a panela no fogo.
Voltei para o convívio dos políticos, somente ouvindo as conversas, pois o tema não me agradava nem um pouco.
De repente, o susto! A explosão! Só vi fumaça e dois vultos engatinhando em direção à porta de saída para o quintal. Corremos para ver o que havia acontecido. A cozinha estava em estado deplorável, com copos, pratos, garrafas, tudo estraçalhado. Lá fora, os dois, brancos como uma cera, e os corpos cheios de caquinhos de vidro, sangrando um pouco. Nada de maior gravidade. O que acontecera? Um deles, como a comida já estava pronta, levou a panela até a pia, com a tampa virada para a parede, abriu a torneira e o choque térmico provocou aumento na pressão. Essas panelas de pressão, explica-se, que ficam em cozinhas de casas de campo, permanecem muito tempo sem uso, não são muito bem lavadas, e a válvula de segurança delas, fica com resto de comida que endurece com o tempo. Conseqüência: entope. Daí a explosão. Sorte que a tampa estava virada para a parede. Fomos ver do lado de fora, o impacto havia formado uma barriga na mesma, com reboco estourado.
A parte cômica vem posteriormente, tanto na cozinha, como na sala ao lado. O teto de ambas com as dobradinhas pregadas, parecendo serpentinas.
Era carnaval! Homenagem! Oras bolas!