BALANÇA INGRATA
Fui paciente! Desconsiderei que a balança havia me desobedecido saindo dos oitenta e indo para os noventa quilos. Não fiz nada!Eu poderia tê-la jogado pela janela, ou martelado com tanta força até que ela se resumisse a pedaços.
Mas não fiz, sou uma pessoa compreensiva, entendi a má criação da minha balança e fizemos as pazes. Depois, sem eu perceber, todas as calças fizeram um complô contra a minha pessoa.
A primeira foi uma bermuda que ressaltava a minha beleza, depois uma calça que já havia me acompanhado por tantos lugares, e por fim quando acordei, nenhuma delas queriam entrar!
As calças começavam apertar desde o quadril até a cintura. Um jeans, que por sinal era a mais ingrata, encolheu tanto que ao subir uma ladeira, perdi a respiração de tanto que me apertava.
Outro dia, uma conhecida me perguntou se eu estava engordando. Noooooossssssaaaaaaaa! Como eu não havia imaginado isto! Será que ela não havia se tocado, ou eu não era a única a me convencer de que estou ganhando uns quilinhos e passando do sobrepeso para obesidade?
Então, comecei a fazer o que toda gordinha desesperada faz... Comer, comer, comer e claro beber, pois sem liquido nada desce fácil. A balança tornou-se tão mal criada que começou a andar para o cem quilos.
Sendo assim, precisava tomar uma atitude drástica! E assim fiz, em uma tarde de terça-feira, caminhei cinco quarteirões e fui para academia! Sempre fazia uma visita às academias, para saber preço, como funcionavam, afinal, sou uma gordinha e não uma desinformada.
Já havia visitado esta academia uns cinco meses antes e lembrava muito bem do preço, do horário e dia de funcionamento, mas, como ter certeza nunca é demais, pedi que a atendente me explicasse tudo, quando ela terminou, eu anunciei minha matricula.
Peguei o dinheiro e esperei que ela o arrancasse das minhas mãos, entramos em consenso que como era a primeira vez, eu deveria “pegar leve” e participar apenas da ginástica.
Aguardei trinta minutos, a aula iniciou com uma musica animada, eu como sempre fui uma boa aluna repetia tudo que a professora mandava, pulei para esquerda, direita, para o alto, para frente, para trás, e comecei a suar como nunca.
Levantei o braço, abaixei a perna, levantei a perna, levantei os dois braços, uma perna, virei a cabeça, estiquei a barriga, arrebitei o nariz, levantei a perna, abaixei a cabeça, puxei a orelha, belisquei a bocheche, um tapão no quadril, UFA!
Para mim a aula já havia terminado, o meu objetivo principal foi cumprido, eu estava suada, e no futuro estaria “malhada”, podia sentir todos aqueles lanches sair do meu corpinho, enfim, poderia ir embora par a casa descansar.
Quando parei, a música não parou, ao olhar o relógio, percebi que havia passado apenas dez minutos de aula. DEZ MINUTOS!!!!!!!!!!!!!!! Que parecia horas, horas, horas,horas de sofrimento.
A cada exercício eu olhava para o relógio, então comecei a me interrogar o porquê eu comera tanto lanche em minha vida, se eu tivesse uma boa alimentação, talvez, não estaria sofrendo naquele lugar.
Ou se realmente era necessário me matar tanto para perder uns quilos, será que é tão ruim ter quilos a mais? Será que estou aqui por um estigma da sociedade?
Será que sobreviverei?
Como a dona da academia teve piedade da minha rechonchuda pessoa, a aula acabou, e fui para casa rastejando-me, um tanto feliz, mas dolorida por haver queimado com tanto esforço meia dúzia de caloria.
No outro dia acordei, meu cérebro despertou, a massa cinzenta quis levantar, mas esta não compartilhou o seu desejo com o restante do corpo, pois na cama fiquei. Deitada, dolorida, machucada, mas contente por acreditar que a balança um dia iria me obedecer e não mais se ousar apresentar mais de cinqüenta quilos.