O tesouro de Mariana.
Eu, Mariinha, devia ter uns cinco anos, pois nessa época eu nem estava na escola ( lá não havia pré escola , a molecada entrava direto na primeira série) a vizinha Mariana, morava na mesma colônia com a família numerosa, prá mim ela era beeeem velha, devia ter doze ou treze anos e apesar da diferença de idade eu gostava de ir em sua casa, não para brincar, pois eu a achava velha para brincadeiras, mas eu ia para admirar o tesouro que ela guardava em cima de uma mesinha que havia no seu quarto. O tesouro era uma linda caixa de pó de arroz, toda rosa, com florzinhas miúdas estampadas. Era uma caixa de "Cashmere Bouquet" e dentro dela, dentro dela não havia "pó de arroz" não, lá havia um verdadeiro tesouro que me fascinava, era "as coisas da Mariana". Ela sempre estava a procura de alguma coisa na caixinha e eu aproveitava para espiar os tesouros de Mariana. Que mimo que eram! Lá tinha de tudo, tinha colares de vidrilho, anel de dôce, brincos sem par, correntinhas quebradas, medalhinhas douradas de diversos santos, alfinetes, botões de todos os tipos e cores, lantejoulas, ramonas ( grampos de cabelos) e um dedal prateado. Ai que lindo! O meu sonho era pegar a caixinha, despejar tudo em cima da cama para ver o que mais teria lá no fundo. Ah, como eu gostava da caixinha da Mariana, mas ela nunca permitiu que eu pegasse. Até agora depois de tantos e tantos anos eu me pego a pensar nos tesouros da caixinha da Mariana. Saudades da Mariana que se perdeu no tempo com seu tesouro. Saudades de mim que voei no tempo e no espaço e não descobri o que havia lá no fundo da caixinha do tesouro da Mariana.