DE PARÁGRAFO EM PARÁGRAFO
Está todo mundo trabalhando e você construindo pontes no céu, meu filho, sem se preocupar com o agora, nem ontem, nem amanhã. Sonha com o céu e dorme no chão.
De forma perigosa, insinuosa, não digeri o primeiro parágrafo. Foi como se caísse uma tempestade. E caiu. Foi deste mesmo céu, perguntei. Não tive tempo de responder, outro parágrafo já havia começado.
Começou assim: o caos perfeito existe. O caos perfeito existe, e é perfeito, pensei. Se nada é por acaso, sigo a lei, em cada ação, em cada reação. De reação em reação, formam-se várias cadeias. Estou preso ou vou conseguir um bom advogado com um alvará de soltura? Que loucura! Terminou assim, tantas perguntas?
Mesmo assim, continuei escutando aquela mesma frase/fase do primeiro parágrafo: Deixe de construir pontes no céu, meu filho, estão todos trabalhando.
Caiu uma tempestade nesta hora. Perguntei se foi deste mesmo céu.
Há milhares de anos atrás, entre o oriente e o ocidente, tive um acidente. Foi grave?, ouvi. Tudo é belo, justo e bom, agora e sempre. Estou vivo. Agradecido, após vários acidentes, resumi, era isto mesmo. Sem entender porquê já queria mudar de parágrafo, e mudei.
Quando acordei, eu já estava sonhando. Desde o primeiro parágrafo. E este é o último. Está bem, não vou mais construir pontes no céu.
Neste último parágrafo, pensei, também pode cair uma tempestade, e caiu, torrencial, molhou meus planos. O epílogo chegou, sem nenhuma novidade e sem nada de novo no parágrafo. Alguém pode me explicar o segundo, o terceiro, o quarto e o quinto, porque o primeiro eu não entendi.
Quem pode explicar? Outro parágrafo?