Aonde a vaca vai


De repente, sem mais nem menos, me lembrei de uma musica, boba demais,  que já esteve na moda faz tempo. João Da Praia é o compositor, o refrão é engraçado, quem ouviu deve se lembrar dela :
“Aonde a vaca vai. O boi vai atrás.
Eu não vou na sua casa pra você não ir na minha,
você tem a boca grande vai comer minha galinha.”
Nada contra as vacas, nem as galinhas, acho ambas lindas, a vaquinha então nem se fala, tranqüila e inocente como ela só, a galinha acho engraçada, o que deve ser pura bobeira minha,imagino que seja por que sai cantando depois do sacrifício de botar o ovo, entendo sua alegria,não deve ser fácil,ela me parece uma criaturinha feliz...
Fiquei matutando por que cargas d’água fui me lembrar  justamente dessa música.
Achar o “start” que desencadeou a lembrança não foi fácil, demorou demais, mas vasculhando o que havia feito durante o dia, acabei descobrindo.
Pela manhã eu estava no banco esperando para falar com a gerente, minha prima. Na minha frente ela  atendia um casal de meia idade,mais para mais idade do que para meia, ela  fez sinal para que eu esperasse um pouco!Fiquei aguardando a minha vez,enquanto  isto está claro que comecei a observar o casal.
Ele vestia calça jeans, camisa amarela de xadrez miudinho,impecável apesar do bolso “ estufados”, não sei o que tanto tinha dentro daquele  bendito bolso,tênis de grife, caríssimo,usava óculos,  cabelos brancos bem cortados ,apenas um relógio simples de aço,brincava com as chaves do carro sobre a mesa.
Ela de calça e casaco de agasalho, camiseta azul, tênis branco e uma bolsa descomunal de cor verde, cabelos  acaju, cortado curto e crespo,tinha os lábios muito finos e queixo duplo bem pronunciado,os dedos cobertos de anéis,brincos, colares, relógio, pulseira,parecia um mostruário de bijuteria .Ele discreto, ela tipo “perua”,falava sem parar,ele não abria a boca, apenas ouvia o matraquear da mulher.Ela falava, falava e falava.Ele “apagado”ela “acesa”
Estava ficando cansada de esperar, quando  finalmente o casal resolveu se levantar!
Arre, até que enfim esses “malas”  saíram! Que saco!

Depois de cumprimentar Gabriela, me sentei, lhe disse que  merecia um prêmio por agüentar aquela “baboseira” durante tanto tempo.
Ela riu e disse que era assim mesmo, estava acostumada com aqueles dois, pois quase todo dia eles iam ao banco, e só queriam ser atendidos por ela que os conhecia a muitos anos. Sempre juntos, feito Cosme e Damião, jamais os viu separado, pareciam irmãos siameses. Sentavam e começavam a fazer um relatório  de seus dias,falavam mal de meio mundo,faziam fofoca de todos que moravam no mesmo prédio.
Gabriela sabia  sem querer da vida de todos seus vizinhos,nem os porteiros escapavam.
Eram tremendamente avarentos,roíam pão duro,faziam questão de tostões,brigavam por causa de um Real, mesmo usufruindo de ótima situação financeira.
Varias vezes a convidaram e  insistiam para  que ela fosse a sua casa,mas como ela disse,nem morta iria por os pés na casa deles, pois depois teria que retribuir a visita e recebê-los na própria casa,no banco os tratava bem, mas não queria “chegação”.

Resolvi o assunto para o qual fora conversar com ela, me despedi e sai.
Durante o trajeto de volta, fui dirigindo e pensando naquele casal, tem que ter paciência  e muito tempo para ir tantas vezes ao banco durante a semana , apenas pedir  a gerente o extrato de suas contas e falar da vida alheia.
 Eita  falta do que fazer!

De repente!EUREKA!
Achei o motivo pelo qual a tal música fora desencavada do fundo do meu cerebrinho que já é confuso por natureza, e eu me pegasse cantando aonde a vaca vai. Em tudo a música me lembrou aquele casal, desculpe não quero chamar a mulher de vaca e nem o homem de boi, mas que tudo se encaixa,ah encaixa!Até a parte da musica que fala do convite rejeitado de visitas...
 É dose, como a “cabeça” da gente funciona independente da nossa vontade! Eu ria sozinha, e já que a música estava lá na minha memória, comecei a cantá-la toda feliz.
Os outros motoristas me olhavam desconfiados...
Cena incrível, uma “loira”, rindo alto  e cantando para quem quisesse ouvir  aonde a vaca vai...Só podia ser loira mesmo! Me diverti com a “cara” que faziam, somente alguns também riam...
Ô casalzinho danado,escarafunchou meu repertório musical...
A “musiquinha” até  que é bem engraçada,estou começando a gostar dela e de cantar bem alto!Vou continuar...Aonde a vaca vai o boi vai...    Aonde a vaca vai, o boi vai atrás...
                                                                     Eu não vou na sua casa... 
 
Aonde a vaca vai, o boi vai atrás...
 Eu não vou...
 
 
M.H.P.M.