Quem ainda torce pela seleção?
Em 86 eu chorei quando o Brasil foi eliminado da Copa. Então com 5 anos, não entendia quase nada do jogo, nem sabia o que era um pênalti, não sabia quem era Zico. Dizem que criança "sente". Bom, naquele dia eu senti a tristeza de um país inteiro. E aquela foi a primeira vez que chorei por causa de futebol.
Em 90, bem mais interado e fanático, eu torci, como só uma criança pode torcer e de novo chorei, como só uma criança pode chorar. As lágrimas começaram a correr assim que Claudio Caniggia driblou Claudio Taffarel e só pararam bem depois do apito final. Ver o Brasil campeão do mundo era o meu sonho, era o sonho de todos. E 4 anos é um tempo demasiado longo para esperar quando você é criança.
Mas os anos passam rápido, tendo você a idade que tiver. Logo veio outra copa e dessa vez, eu estava no limite do fanatismo, da inocência e da paixão. Acabara de ver meu time ser bicampeão mundial, mas era diferente. A Copa do Mundo era incomparável, era mística, era sagrada. Nenhuma conquista de clube poderia chegar aos pés da conquista da Copa. E sinceramente, naquela época, pelo menos para mim, não poderia mesmo.
E naquele ano novamente eu chorei, só que dessa vez, finalmente - chorei de alegria. Eu senti que um país inteiro estava feliz, todos sorriam, choravam, buzinavam, comemoravam, se abraçavam. Foi um daqueles dias indescritíveis, pelos quais se vale a pena viver, pelos quais se vale a pena esperar. E dos quais a gente lembra com saudade, com a incômoda certeza de que aquele sentimento faz parte do passado e não mais se repetirá.
Em 98 eu tinha certeza que o Brasil venceria novamente. Todos tinham. Nós éramos os melhores, sempre fomos, éramos os mais temidos, os atuais campeões. E nós tínhamos Ronaldo. Avançamos, chegamos às semifinais contra a Holanda, começamos perdendo. Jogo difícil. Bom, mas como eu disse, nós tínhamos Ronaldo. E nós empatamos. Na prorrogação com morte súbita, os 30 minutos mais tensos da minha vida. Vieram os pênaltis. E nós tínhamos Taffarel. Uma explosão de alegria, um país inteiro feliz, sai na rua gritando abraçado com meus amigos "ÉL ÉL ÉL, vai que é sua Taffarel!!!". Hoje dá até vergonha falar isso, mas esse foi outro daqueles dias indescritíveis.
E também foi a última vez em que chorei por causa de futebol.
Comemoramos muito, antes da hora. Na final, descobrimos que a França tinha um hino bonito, que ao ser cantado por um povo apaixonado dentro de um estádio lotado, fazia com que as pernas dos adversários tremessem. Também descobrimos que a França tinha Zidane, e que ele sabia fazer gols de cabeça. Talvez seja apenas desculpa para a derrota, mas naquele dia fiquei com a impressão de também ter descoberto que havia algo estranho nos bastidores do jogo...
Veio 2002 e nós vencemos com uma campanha perfeita. Um país inteiro estava feliz, todos sorriam, choravam, buzinavam, comemoravam, se abraçavam. Foi um dia especial, mas apenas um vago reflexo do que fora aquele dia em 94. Estaria me tornando um saudosista? Talvez.
Em 2006, perdemos de forma ridícula. Mas eu senti muito mais a derrota do meu time na final da Libertadores, assim como comemorei muito mais as épicas vitórias dele no ano anterior do que comemoraria a conquista da Copa.
Em 2010, perdemos com bravura. E acho que essa foi a última vez em que torci pela seleção brasileira.
As copas começaram a ficar igual o Natal - a cada ano parece mais artificial, a cada edição perde mais a magia, a graça.
Hoje, as vésperas de uma Copa no Brasil, que era o meu maior sonho quando criança, vejo a seleção jogar e não sinto absolutamente nada. Às vezes dá até vontade de torcer contra. E vejo que não sou o único a assumir essa postura. O que aconteceu? O que mudou? Seria o futebol fraco, os jogadores mercenários, pouco identificados com a torcida, jogadores que só são convocados por interesses de empresários? Seria a total falta de escrúpulos do presidente da CBF e toda a corrupção que envolve a FIFA e o negócio da Copa do Mundo? Como torcer por algo podre em sua essência?
No meu caso, é a soma de tudo isso, principalmente dos últimos fatores. Mas eu estaria sendo hipócrita dizendo que não torço mais pelo Brasil devido à corrupção da CBF. Tenho plena consciência que os diretores do meu clube (de todos os clubes aliás) não são santos. E se os dessa gestão também não são diabos, os das anteriores eram, ou os da próxima serão. E mesmo sabendo disso, quando o meu time entrar em campo, eu sempre vou torcer por ele do mesmo jeito.
Só me sobra fazer uma analogia entre o amor e a paixão. Eu me apaixonei pela seleção brasileira, por ela eu chorei de felicidade e de tristeza, com ela tive dias inesquecíveis e noites de partir o coração. Foi intenso, foi a melhor coisa do mundo, foi triste, foi bonito, mas acabou. As paixões sempre acabam.
Já pelo time, nutro o mesmo amor de sempre. Existem ápices de felicidade e de tristeza, brigas e reconciliações. Mas principalmente, também existe a certeza de que esse é um sentimento duradouro, que não vai mudar daqui 4 anos.
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