O paquerador
Enquanto meu marido foi estacionar o carro, entrei no restaurante e lá aconteceu o de sempre, não enxergo quase nada nos primeiros instantes. Assim que acostumei a vista e procurava um lugar, percebi que um senhor de óculos escuros, cavanhaque e cabelos grisalhos seguia meus passos. Nossa, pensei, se eu estivesse bem arrumada, de salto alto, com penteado de cabeleireiro vá lá que chamasse a atenção, mas não era o caso. Eu não estava ali pra paquerar, mas fiquei curiosa e olhei. O homem era elegante, bonitão e enquanto conversava com um companheiro de mesa, de vez em quando olhava pro meu lado. O outro falava, falava e quando chegou a vez dele responder, ouvi sua voz. Quase tive um ataque de riso. Não que a voz dele fosse fininha, rouca demais, esquisita ou coisa parecida. É que eu a conhecia muito bem. O paquerador nada mais era do que um velho amigo disfarçado sob novo visual. Nunca, desde a juventude, o vi de bigode, barba ou cavanhaque! Nem com aquele penteado. Até o final do ano passado ele era o de sempre. Fui até lá e rimos bastante. Percebendo que não o reconheci de imediato, ele fazia aquela encenação toda só pra me provocar e se divertir às minhas custas.