REENCONTROS
O bom filho sempre à casa torna. É uma máxima que ouvimos ao menos uma vez na vida. Uma das tantas que são ditas por aí, seja ouvindo alguém falando sobre um fato que aconteceu consigo, seja para felicitar a nossa chegada num lugar há tempos não visitado. Não me disseram isso, mas foi uma das primeiras coisas que recordei ao entrar em Santiago, cidade que morei até dois anos atrás, por dois anos. Outras ideias saltitaram em minha mente. A mais comum, mas isso não tinha na minha época; nossa! isso continua do mesmo modo desde que saí. É a nostalgia que nos faz perceber que os lugares por onde passamos pouco mudam. E muitas vezes as pessoas que convivíamos também estão quase nada diferentes daquilo que sabíamos serem quando as deixamos nas suas cidades. O outro pensamento que me ocorreu foi uma ideia utópica, que eu sabia ser, mas ainda assim gostei de tê-la. Quando eu for bem velhinho, quero ter juntado bastante dinheiro pra poder viajar por todos os lugares que já terei passado e rever todos os que continuarem morando lá. Talvez fosse o ápice da minha nostalgia, da nostalgia gostosa de quando se sai de um lugar que se gosta.
Foi uma passagem rápida, apenas dois dias, mas suficiente para sanar a saudade de algumas pessoas, satisfazer os olhos de ver o lugar onde trabalhava, onde estudava, onde morava. Desejos realizados, retornei à oca, ao meu universo, ao meu mundinho. Com um sorriso nos lábios.
Revi uma amiga que há cerca de quatro anos não via nem conversava. Nas últimas semanas travei um contato amigável pela internet (essa internet, tão boa certas vezes) e marcamos encontrar-nos. Há tanto assunto para atualizar um ao outro que em certos momentos fica-se selecionando as histórias. Metade delas fariam necessários mais dias de visitação. E um papo tão interessante e gostoso que fizeram as horas passar. São dois mundos que depois de muito tempo encontram-se. E se separam novamente, cada um construindo a sua história separadamente. Novamente.
Encontrei outra amiga, ex-colega de faculdade, comi um bolo em sua casa e acompanhei-a com a mãe e o irmão a um encontro num grupo de jovens. Prontamente aceitei o convite. Também já participei de grupos de jovens, mas há alguns anos afastei-me do convívio. Motivo? Não é um só, com certeza, são vários, e não cabem serem esclarecidos aqui. Mas sempre dá aquela vontade de rever o pessoal. Era um grupo novo para mim, mas valeu o retorno ao clima de um grupo de jovens.
Estamos numa época de final de ano. E são muitos os reencontros com familiares, amigos e namorados, namoradas. É o primo que visitei pela última vez no Natal passado, os avós que há dois anos não vejo a cara, a namorada que há 129600 minutos não beijo (são apenas três meses, mas vá dizer isto a um coração apaixonado) ou mesmo os ex-colegas do colégio que depois da formatura do terceiro ano só se falaram pelo msn.
Reencontramos, também, pessoas que não descem direito pela garganta. E haja paciência para suportá-las, pensa no espírito natalino, não vá se estressar hoje. Esses reencontros são os que fazem parte da categoria dispensáveis.
Inclusive poderíamos denominá-los de não-desejáveis, mas creio ser melhor alcunhar assim aquelas visitas aos entes queridos que já estão no outro plano, falecidos, aqueles que não nos dão mais o prazer da companhia, os mesmos que abriram um rombo muitas vezes hemorrágico em nossos corações e sorrisos. Realizamos esses encontros a contragosto, tristes, mas os fazemos. Se não formos até o cemitério, encontramos nossos queridos em pensamento, recordando as suas façanhas, os seus sorrisos, o timbre da voz.
Não sendo a ferida muito recente, nos momentos que voltamos nosso pensamento a eles, vemos o quão insignificante são os presentes que entregamos e que desejamos ardentemente, pedindo aos pais, à namorada, à irmã, ao amigo secreto. Vemos ser um pensamento simplório, nada além de representativo. O valor dos presentes não se baseia no tamanho, muito menos no custo. E isso não é novidade. Já vi gente chorando por um pedaço de papel onde algumas palavras sinceras eram escritas e outras insensíveis porque tinham recebido grandes regalos mas sem nenhum cartão, nenhuma frase, nenhum esboço de carinho ou afeto verdadeiro.
Mesmo todo dia ser um bom dia para reencontrar o dono das vozes telefônicas, o remetente das cartas, o dono dos e-mails enviados e recebidos, é no final do ano que todos ficam mais inclinados a refletir sobre isso. É nessa época que muitos corações se abrem. É aí, então, que o espírito natalino reina. Quanto aos demais, alheios a esses sentimentos fundamentais, vai um lamento e a reza por um próximo Natal diferente.