OS CRUZEIROS MARÍTIMOS E SEUS RISCOS

 
MSC Armonia ancorado no Porto de Santos
Imagem de Bruno Miani

Em janeiro de 2009 publiquei um texto sobre a febre dos cruzeiros marítimos, bem como os desconfortos (verdadeiros micos) a que os passageiros estão sujeitos ao participar de qualquer um deles. Em poucos anos os cruzeiros marítimos consolidaram-se como um dos mais importantes nichos do turismo nacional, tendo no Porto de Santos sua principal base no país. Seria de se esperar, portanto, que a atividade fosse conduzida com o máximo de profissionalismo e cuidados, de modo a se evitar ocorrências que venham a afastar os passageiros. Porém, parece que não é isso o que vem acontecendo, haja vista a quantidade crescente de problemas ocorridos nesses cruzeiros.
 
Depois que tal febre se instalou por aqui e os cruzeiros se popularizaram, a qualidade dos serviços oferecidos pelas companhias aos ilustres passageiros de seus transatlânticos só poderia mesmo decair. Mau atendimento, alimentos e água mineral com prazo de validade vencido, pessoas jantando de bermuda, camiseta regata e havaianas, excesso de gente participando das atividades oferecidas sem organização, bebedeiras, discussões e brigas entre os passageiros e muita, muita ignorância a bordo, tanto por parte dos tripulantes como dos passageiros. Em certos casos, verdadeiros barracos. O que antes era glamour, agora é uma aventura no escuro.
 
O naufrágio do transatlântico italiano Costa Concordia no litoral da Itália em 13 de janeiro de 2012, é uma prova cabal de que esses monstros de aço podem estar sendo conduzidos por irresponsáveis e despreparados comandantes, o que, por si só, já seria um fato gravíssimo.
 
Em fevereiro de 2012, mais precisamente no dia 18, faleceu num hospital da cidade de Santos/SP uma tripulante brasileira do navio MSC Armonia, depois de ficar internada por quatro dias. Nesta mesma data, dez pessoas (7 tripulantes e 3 passageiros) que também estavam a bordo do Armonia permaneciam hospitalizadas na mesma unidade de saúde. Todos, inclusive a tripulante falecida (uma garçonete de 30 anos), deram entrada no hospital com problemas respiratórios agudos. 
 
Os dois mil passageiros que chegaram ao porto de Santos nesse navio, não puderam desembarcar de imediato, ficando retidos na embarcação durante seis horas, o que fez uma das passageiras declarar: “Lá dentro ficamos em uma sala com ar condicionado. É algo contagioso? Se for, será uma epidemia”.  A medida foi tomada para que a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) pudesse inspecionar o Armonia. Mesmo a equipe da ANVISA não tendo chegado a conclusão nenhuma devido a falta de exames que possibilitassem o diagnóstico, o desembarque foi autorizado, assim como autorizado foi o início de um novo cruzeiro do MSC Armonia no mesmo dia, este com destino à Argentina e Uruguai, levando 2.500 passageiros no escuro, ou seja, sem saber ainda o que havia ocasionado os graves problemas de saúde. Sabe-se que, na chegada a Montevidéu, cinco tripulantes tiveram que ser atendidos por um pneumologista devido problemas respiratórios (os mesmos ocorridos aqui). Em Santos, o médico infectologista que cuida do caso disse na ocasião poder tratar-se de H1N1 (vírus da gripe suína), mas não descartou a possibilidade de infecção por outros vírus ou bactérias, muito menos quantas pessoas podem ter sido infectadas. “Não sabemos com o que estamos lidando”, destacou ele. Pois é, e a ANVISA liberou o navio para novo cruzeiro.
 
Passageiros do MSC Armonia à espera de liberação para desembarque
Imagem de Tana Vicentini

O advogado contratado pela família da tripulante falecida espera que o caso ganhe repercussão e sirva de exemplo: “As condições de trabalho e a falta mínima de saúde a bordo de um navio desses devem ser denunciadas”, disse ele. O advogado acrescenta que as condições de todos esses navios de cruzeiros devem ser rigorosamente verificadas, pois essas condições deixam a desejar, seja no que diz respeito à situação dos funcionários em particular, seja sob o aspecto sanitário das embarcações em geral. Em ambientes em que milhares de pessoas mantêm convivência próxima, isto não se deve admitir, sequer em grau mínimo.
 
A nota divulgada pela MSC Cruzeiros é lacônica e hipócrita, como sempre ocorre nestes casos: “A MSC lamenta o ocorrido e está prestando toda a assistência aos familiares e amigos. A empresa está acompanhando o trabalho das autoridades e aguarda os laudos definitivos”. Fazendo-se um levantamento dos problemas já ocorridos em cruzeiros marítimos, vê-se que a MSC é a empresa que se destaca no lado negativo do setor. Mesmo assim, continua promovendo seus cruzeiros com toda a pompa e circunstância para pessoas embriagadas pelo prazer de estar sobre o mar – quando não, sob ele – e cercadas de um luxo duvidoso. Quanta ilusão e quanta desilusão!

 
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Arnaldo Agria Huss
Enviado por Arnaldo Agria Huss em 21/02/2012
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