Gosto muito de conversar com os mais jovens e o que aprendo com eles não tem preço e embora alguns adultos possam discordar, na verdade eles são uma pequena e irrequieta escola ambulante.
Uma das coisas que mais me chama a atenção é a facilidade com que se entendem através de palavras e frases picotadas que pelo menos pra mim , fazem pouquíssimo sentido.
Entretanto para os jovens, pelo menos para os que conheço , minha maneira de falar é que muitas vezes é absolutamente incompreensível .
Dia desses estive conversando com dois jovens que casualmente encontrei na praça de alimentação do shopping perto aqui de casa e trocamos várias ideias durante um longo tempo.
Aprendi palavras novas, ensinei algumas gírias do meu tempo de juventude o que aliás, provocou intensas gargalhadas em ambos mas, gostei muito do que eles repetiram várias vezes, um tal de “tá manêro !”
Pelo que consegui entender o “tá manêro” significa, entre outras coisas , um “tudo bem”, “tá legal”, “ok” e coisas assim .
Também ouvi um “tá ligado ?” e um “fica frio !” que sinceramente adorei porque simplifica a nossa linguagem e creio até que faz com que a comunicação se torne muito mais prática e rápida .
Quando por alguns instantes fiz um ar de preocupado e olhei discretamente para o relógio a menina, aliás muito jovem para usar e abusar do batom e decote , me perguntou se eu estava “bolado” .
Não preciso dizer que levei um tempinho para conseguir entender que “bolado” entre outras coisas significa “preocupado”, “apreensivo” ou “desligado” .
É bem provável que neste ponto da leitura espiões da “Turma da fita métrica” ou da “Academia brasileira de baboseiras” estejam reunidos para formalizar uma denúncia de que sou a favor do assassinato público da língua portuguesa . Não é nada disso !
O que quero aqui tomar a liberdade de ressaltar é que, em grande parte do tempo e na esmagadora maioria das vezes nós adultos não nos aproximamos dos jovens como deveríamos, tentando entender suas ambições, suas frustrações, suas expectativas, anseios e, principalmente, quase sempre esquecemos que os jovens estão num intenso e perigoso período de descobertas.
Já fui jovem, já falei e até criei algumas gírias, troquei e encurtei palavras e nem por isso fui péssimo aluno em literatura , gramática e português . Recentemente , através dos meus rabiscos confessei de público que ainda não tinha conseguido ler (e entender) a décima parte dos “Lusíadas” de Camões .
Percebo claramente que temos uma incrível facilidade de criticar os jovens , torcendo o nariz para seu característico linguajar mas, também vejo com clareza que em inúmeros casos o que falta é muita coragem, firmeza e paciência para acompanhar e orientar o desenvolvimento deles . Em grande parte das vezes eles estão é pedindo socorro e nós fingimos que não ouvimos .
Tudo bem que em torno da cabeça e da vontade deles ronda a perigosa ameaça das drogas e das doenças sexualmente transmissíveis mas, será que com um pouco mais de conversa , esclarecimento e deixando de lado a tola demagogia do preconceito muitas coisas, tragédias e aborrecimentos não poderiam ser evitados ?
Que chova uma saraivada de críticas mas, gostei muito de aprender algumas gírias dos jovens, de conversar com eles e , alguns adultos gostem ou não , aplaudo seu jeito risonho, juvenil e absolutamente despreocupado com a opinião e crítica da sociedade.
Achei muito legal o encontro e ao me despedir dos meninos, enchi os pulmões, olhei fixamente para os dois e fazendo sinal de positivo com o polegar simplesmente repeti.....”tudo bem, tá manêro !”......
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(.....imagens google.....)