Palavras de sabedoria?

Interessante como o ser humano procura receitas para tudo. E se há procura, é provável que ocorra a oferta. Receitas para ser feliz, para obter sucesso, para ficar rico, ser um ente familiar que corresponda ao esperado para a posição e até mesmo para melhorar a performance nos momentos de intimidade. O curioso é que essa oferta de receitas geralmente ocorre na forma de livros. E esses por sua vez são classificados nas páginas finais de jornais e revistas que publicam os títulos mais vendidos semanalmente como os de auto-ajuda. Eu mesmo já tive a oportunidade de ler alguns desses. Esse ramo teve início com o primeiro livro de auto-ajuda publicado em 1859 pelo escritor britânico Samuel Smiles, que intitulava-se Auto-Ajuda e que deu nome ao gênero. Essa literatura, adormecida por muitos anos, voltou a despontar no final da década de 80, tornando-se rapidamente uma febre mundial. Inúmeras editoras se especializaram exclusivamente nesse nicho, que somente nos Estados Unidos chega a movimentar anualmente mais de 8 bilhões de dólares. No Brasil, anualmente são comercializados mais de 3 milhões de livros de auto-ajuda.

Cada um tem uma história, ou estória para contar. Os mais perspicazes a aproveitam em publicações literárias que podem, ou não, auxiliar outras pessoas na pedregosa tarefa de viver. O mercado é amplo e está em franca expansão. As melhores e mais conceituadas livrarias do Brasil reservam amplo espaço do seu acervo para esse gênero literário. No comércio de menor porte, como bancas de revistas, os livros de auto-ajuda só dividem espaço com os best-sellers, estando ainda em maioria absoluta. De certa forma, essa nova frente da literatura teve um importante papel social na educação. Mais que orientar pessoas, os livros de auto-ajuda conquistaram novos leitores. Afoitos para resolverem seus problemas, novos adeptos que nunca haviam se dedicado ao luxo de ler um bom livro, ou mesmo lembrado desse feito, iniciaram nessa jornada. Certamente, mais que por prazer, o fazem por necessidade. Debutantes que nunca tiveram contato com as obras clássicas de Aluísio de Azevedo, Machado de Assis ou José de Alencar, têm agora acesso e preferência por livros menos culturais, porém, na sua medida, mais instrutivos. É razoável analisar que esse se trata de um leitor diferenciado. Que procura por um livro que o instrua e sirva como um farol a iluminá-lo num propósito almejado ou no desfecho de uma dificuldade. Financeira, amorosa, familiar ou social, não importa. Sempre haverá um guru instrutivo materializado no formato de livro. O importante é que esse novo leitor tenha consciência de que esse livro trata da história de outrem; não a sua. Logo, percebe-se uma falha semântica na classificação dessas obras. Na auto-ajuda o sujeito é ativo, sendo que a iniciativa e os motivos da mudança de hábitos parte de si, da sua própria vontade. Se esses livros realmente ensinam a iluminar os caminhos penumbrados da vida e a cristalizar sonhos, não sei. O que sei é que conquistou muitos adeptos da literatura de oportunidade. Leio sobre o que preciso saber e o que me convém. E isso já é um grande passo.

Patrik Rodrigues
Enviado por Patrik Rodrigues em 21/02/2012
Código do texto: T3511276
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