O FANTASMA DO PORÃO

Acordei com o coração aos pulos.

Sob o assoalho fica o porão.

As batidas que ouvi foram fortes, repetitivas.

Estive sonhando?

Costumávamos contar histórias de assombração na infância. Eram tantos os causos.

Velho Sebastião!

Tantos anos. Na minha cabeça ainda as histórias que ele contava estão tão bem guardadas.

Há coisas que o tempo não leva, não carrega.

Fica tudo impregnado na gente.

A menina que fui sempre se encantou em ouvir e a mulher que ela se tornou ama contar.

Voltando a contar sobre o assunto que me moveu a escrever esta crônica. Bem, eu fiquei quietinha.

A cama estava tão quentinha e as cobertas eram tão macias.

Meu corpo estava adorando estar ali e minha alma amando estar na casa dos meus tempos de menina. Menina-moça!

Foi no início da juventude que a deixei.

A deixei em termos, porque sempre estive retornando aqui.

Na madrugada o silêncio voltou a reinar e meu coração por fim pôde sossegar.

Já ia adormecer de novo quando outra batida fez meu coração pular.

Estranho! Força da minha imaginação?

Talvez. Tenho essa facilidade de voar.

De mãos cruzadas sob a nunca fiquei a escutar.

De novo o silencio a dominar.

Que bobagem a minha!

Estou sempre a fantasiar.

Por que não me levantar e verificar?

Comprovando que não havia porque me preocupar seria mais fácil me tranqüilizar. Depois sim poderia adormecer em paz.

Descalça, eu deixei o leito e caminhei devagar. Acendi a lâmpada do quarto.

Peguei o corredor. Desci a escadaria escura e fui colocar a mão no interruptor... Antes que meus dedos o tocassem a lâmpada se acendeu.

Voltar correndo para cima? Esquecer tudo?

Ó cabeça fantasiosa!

Continuei parada ali. Nada ao meu redor além do que era tão conhecido meu.

Os armários estavam todos fechados. As janelas e portas, trancadas.

Nada mesmo fora do lugar.

Temos essa mania de aumentar as coisas no meio da madrugada. Criar fantasmas é tão fácil.

Coloquei os dedos no interruptor e apaguei a luz.

Fiquei pensando enquanto subia os degraus se não estive só a imaginar tudo aquilo.

De volta ao quarto esfreguei os pés no tapete e me enfiei embaixo das confortáveis cobertas.

Quando a manhã nasceu eu despertei e fiquei pensando no fantasma do porão que não enxerguei.

Pensei se realmente ele esteve lá ou se sonhei...

SONIA DELSIN
Enviado por SONIA DELSIN em 18/01/2007
Reeditado em 25/03/2011
Código do texto: T351093
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