Além do visual
Estamos entrando em período de carnaval. É uma época na qual as pessoas, de um modo geral, só pensam na possibilidade de diversão. Arriscaria a dizer que apesar da intensa mídia, dos grandes espaços disponibilizados na televisão, do marketing fantástico com relação ao carnaval no Rio de Janeiro, e de junto com o futebol ser a paixão do povo, é um período que gera contradições. Iniciaria pela contraposição luxo X riqueza, com relação às grandes entidades do Rio. Também se aplicaria o contraditório entre o luxo e patrocínio daquelas com as dificuldades das agremiações interioranas que só pelo fato de saírem às ruas e proporcionar um pouco de alegria para uns, já merece o louvor pela batalha de outros tantos.
Outro aspecto que poderia falar é sobre os excessos de álcool, violência por ele gerado, mas isto não ocorre só no carnaval. Quando as pessoas se deprimem, por desemprego, falta da satisfação de necessidades básicas, também bebem mais, o que gera mais violência.
Tivemos épocas de um carnaval mais singelo, mais despojado, mas não menos bonito e alegre. Os de minha geração jamais esquecerão o carnaval da 15 de Novembro, e Andrade Neves, da liberdade, da descontração, diria até da inocência, dos bailes de carnaval que lotavam os clubes sociais.
Hoje, com raras exceções, os salões esvaziaram,perderam espaço para os mega sons instalados nos carros e que infernizam os ouvidos e põem fim à tranqüilidade daqueles que não freqüentam os locais fechados (clubes) nem os espaços delimitados para carnaval de rua.
O que eu gostaria de chamar a atenção é para o maravilhoso potencial de Pelotas, pela geração de emprego, fonte de renda e incentivo ao turismo.
Tivemos o que poderíamos chamar a Era Carlos Alberto Mota e a Era Pompílio Freitas. Hoje temos outros profissionais, também grandes, alguns que conviveram e aprenderam coisas com aqueles.
Creio que temos aqui, e constatamos isto nos salões, nos concursos de fantasias, obras belíssimas, fruto do talento e criatividade destes profissionais, que a exemplo dos profissionais da literatura, que ministram oficinas, poderiam fazer oficinas e ensinar, dentro das entidades carnavalescas, como desenhar, cortar, bordar, costurar, montar uma fantasia, quais tipos de materiais poderiam ser utilizados para as fantasias de originalidade, para os adereços, mostrar as novidades, com o intuito de instrumentalizar as escolas que teriam todo o ano para fazerem aquilo que, de um modo geral fazem às pressas, em detrimento da qualidade. Certamente, ganharia o público com o aprimoramento do visual, as escolas com a qualificação da mão de obra, os próprios estilistas que estariam treinando mão de obra que poderiam dispor, para poderem atender com mais tranqüilidade sua clientela. Abre-se com isto espaço para serralheria, marcenaria, pintura. Não estou falando novidade nenhuma, apenas lembrando aquilo que me parece já foi feito pela tantas vezes campeã do carnaval, Unidos do Fragata.
A beleza das fantasias de carnaval produzidas em Pelotas, de um modo geral, é incontestável, então porque não realizar eventos de porte, tendo-as como atração? Já presenciei o deslumbramento de pessoas que vieram da Chile, da Colômbia, de Portugal, que após o desfile das meninas, faziam fila para com elas fotografar e levarem as fotos para mostrar em seus locais de origem.
Não estou falando nada que já não tenha sido cogitado por pessoas que participam dos clubes sociais, mas enfatizaria como seria importante a criação de um Museu do carnaval, onde ficariam expostas todas as fantasias premiadas desde os mais antigos carnavais e que as pessoas se depusessem doar para a concretização do mesmo. Moças que foram rainhas já doaram suas fantasias para as entidades nas quais reinaram. O ato poderia ser seguido em prol de uma organização que agregasse todos os clubes, entidades carnavalescas. Preservariam, além das fantasias, de luxo, originalidade, superluxo, pertencentes utilizados pelas rainhas do carnaval da cidade, modelos de troféus distribuídos, enfim, uma gama muito grande de objetos que, sem dúvida alegraria os olhos de quem os visse, pois estariam á disposição de um público maior, que saberia valoriza-los, aprecia-los e não guardados nas respectivas residências e ainda poderiam ser um incentivo a mais para o turismo em Pelotas.