Algumas lições do meu pai.

Algumas vêzes me acordava de madrugada antes de seguir para o trabalho, apenas para dar um beijo de bom dia, o que hoje me traz saudade, naquele tempo me deixava extremamente irritado ao pensar: Onde já se viu me acordar esta hora da manhã. Travávamos assim uma verdeira guerra ao raiar de cada dia, sem contar que me chamava atenção pois esquecia com frequência o danado do radinho de pilhas que dormia a meu lado, às vêzes escutando futebol,ou mesmo música que me distraiam até pegar no sono pesado, sempre intenrropido com seu "irritante beijo matinal ".

Era uma época de muito trabalho, mas divertido, nossa casa vivia cheia, era ponto de apoio para os que saiam da vida da roça para a cidade grande, dividíamos com os hóspedes temporários não só o lado bom que era ter uma referencia para começar a vida, mas também muito trabalho.

Por lá passaram o José Homero, primo sistemático que veio de Divino, com uma parada em Juiz de Fora, o Totônio da tia Sinhana, que também morou uns tempos conosco, e o irmão mais novo, o Gílson, todos vieram quase ao mesmo tempo, pois perderam o "chefe da família" com uma doença que diziam ter o nome de "barriga d'agua" que só depois fiquei sabendo que na verdade era secundária a Esquistossomose, muito comum naquela época para os lados de São Gonçalo, devido ao costume de se banhar no rio com água contaminada.

Passou por nossa casa também o outro primo,o Tobias, que hoje vive em Nova York(que chic) era exímio com o violão que muito nos distraia com suas canções, que até hoje lembro de muitas delas as letras bem feitas mas que infelizmente como não gravávamos, várias foram perdidas, com uma destas músicas chegou a vencer um festival, muito comuns naquela época, cuja letra dizia mais ou menos assim: -Vêm cá, e me dá a sua mão, vamos juntos pela vida misteriosa sensação, dias noites e quintais, entre mil sonhos e metais, espalhados. Vamos, quais ciganos libertinos, fugitivos, tão meninos pelos caminhos sem fim...

Tempo de muito aprendizado e lembranças, que você contava do seu êxito na vida, não pelo que possuía em sua conta bancária, ou pelos bens que poderia ter, mas pelo número de pessoas que você, dizia feliz que ajudou a mudar a vida, lições de honestidade, e de uma inteligência rara de quem possuia uma cultura geral de causar inveja. Confesso que várias lições só assimilei depois de muitos anos, como aquela de um dia ao estarmos passeando em um carro semi novo, brincou olhando para alguns trabalhadores que se espremiam em um caminhão tipo "pau de arara",inicialmente dizendo para mim alguns gracejos ao referir de forma hilária aos trabalhadores,depois a seguir de um silêncio momentaneo e reflexivo, completou: - São pessoas que trabalham pesado, e não há nada mais digno que qualquer trabalho, por mais simples que seja.

Baseada nesta teoria, uma vêz quando ficamos em um hotel no Rio de Janeiro, você deixou a faxineira do hotel radiante de alegria ao afirmar:-Sabia que você é uma das pessoas mais importantes deste hotel? Pois se você não executar bem sua tarefa,todos sairão prejudicados.

Hoje entendo bem esta forma de pensar do meu saudoso pai, que procurava valorizar todos, independente do quanto de poder a pessoa poderia ter...