BULLYING RELIGIOSO

     Inacreditável,mas existe. Assim como no fundo das águas tranquilas e transparentes encontra-se a pedra preciosa e junto a ela a lama e o lodo, no subterrâneo da alma o espírito repousa à luz da fé e do conhecimento ou, atormentado nas trevas da ignorância, perturba os outros. Se essa ignorância abrange o discernimento religioso, torna-se doença irremediável por outro convencimento, e crônica por convicção do paciente que não a admite.

     A quem me lê previno de que não faço acepção de pessoas nem ouso lhes aferir crenças. Mas do que destas transparece e resulta é algo perceptível ao bom senso, e objeto de análise à boa convivência. Religião é algo próprio, inquestionavelmente respeitável no âmbito teórico da fé, quão contraditória tantas vezes em suas ações. Tudo isso (distanciamento entre teoria e prática) devo igualmente dizer, ocorre em todos os seguimentos, bem como se percebe com absoluta equidade em seguidores ignorantes ou esclarecidos, de todas as denominações.

     Contou-me uma amiga acerca do constrangimento por que passou a filha dela alguns meses em que estivera a cursar a série inicial numa escola evangélica. A criança de sete anos voltava triste para casa e a cada dia se indispunha a ir às aulas. Confessou à mãe que as outras crianças mantinham-se distante dela, não a convidavam para brincar e que a todo instante diziam: “Você não é de Jesus, você não está salva, pois só crê em Maria”. E a criança foi se sentindo rejeitada, discriminada por aquela turminha de coleguinhas “evangélicos” mal doutrinados e sem o verdadeiro conhecimento do que seja uma vida evangélica. Um dia essa criança chegou a casa com a seguinte pergunta: “Mãe, o que é idólatra?” e acrescentou: “Na escola todos me chamam de idólatra, e dizem que sou filha de idólatra”. Só aí minha amiga entendeu o problema e tirou a filha daquela escola. São estas e outras situações que apontam contratestemunhos fundamentados na ignorância religiosa.

     Um colega de trabalho não foi ao meu casamento, alegando “jamais entrar numa igreja católica”. Por este mesmo motivo dois colegas advogados não foram ao batizado do meu filho. E eu me pergunto: Jesus jovem, a que cristianismo assistes?

     Não tenho esse tipo de resistência. Sou católico, mas nunca me neguei comparecer a outra igreja, quando convidado. Até mesmo para conhecer-lhe em ritual e doutrina e, assim, dela emitir alguma ideia. Tenho profundo respeito pelos evangélicos bem intencionados. Conheço e convivo com vários que são exemplos de cristãos a viverem vida evangélica. Mas também conheço e convivo, assim como no mundo católico, com muitos fariseus.

     O genro de um consagrado pregador evangélico daqui de Brasília tornou-se pastor. É o oposto do que lhe fora o sábio e respeitável mestre. Prega mal, demonstra falta de crescimento espiritual e pouco conhecimento bíblico. Procura então superar essas deficiências atacando a igreja católica a ponto de vestir-se de batina e fazer caricaturas ridicularizando padres. Faz idêntica alusão aos espíritas, igualando-os aos “malfeitores” de outras correntes. Triste ignorância em que se encontra a miserabilidade humana de um falso pregador. Soubesse ele o mínimo sequer da doutrina kardecista com sua abnegação pela espiritualidade e boas ações, rasgaria as próprias vestes e sairia desesperado, como Judas, a espatifar-se nas próprias pedras. E, com certeza, o Cristianismo teria um a menos para desuni-lo e levar da escola à igreja o Bullying religioso.
LordHermilioWerther
Enviado por LordHermilioWerther em 20/02/2012
Reeditado em 11/07/2012
Código do texto: T3510284
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