Copacabana, lugar de indiferença

Ao sair de Ipanema, contornando o Forte de Copacabana, contemplei aquela curva de areia da Princesinha do Mar. Minhas pernas pediam descanso, mas meus olhos estavam famintos. Copacabana não pertence ao Rio, ela pertence ao mundo. Ou melhor, Copacabana é um fragmento do mundo. E um fragmento de riquezas mil. Nela se congregam todas as línguas de nosso planeta, as vezes vejo até alienígenas. Mas depois olho melhor e descubro que são ainda resquícios de hippies e punks. Todas as regiões tupiniquins marcam encontro em Copacabana. Tem pernambucanos, baianos, paraibanos, potiguares, cearenses, manauras, paraenses, gaúchos, barrigas verdes, etc.

Ao passar pelo banco de Carlos vi um casal que se beijava ardentemente. Os poetas costumam inspirar casais apaixonados. Mas a frente vi um grande castelo gótico construído na areia. Devia ter mais de 20 torres. As pessoas se aglomeravam para ver a obra do artista de areia. Já no posto 6 havia um anjo. Suas asas eram belas e perfeitas. Copa tem de tudo, mas até anjo caído? Uma menina depositou algumas moedas em uma lata aos pés do anjo, na mesma hora ele saiu de sua imobilidade e com muita ternura retribuiu os cobres. Eu vi um grupo de mineiros aplaudindo. Próximo aos novos quiosques vi uma roda de samba. Que depois seguiram rumo ao Leme com sambas velhos e novos. O cavaquinho começou a relembrar o poeta de Vila Isabel. E agora quem aplaudia eram os nordestinos, talvez por que lembrava seus repentistas.

Quando ainda passava por Ipanema com o meu fiel Lancinante, havia um nevoeiro triste sobrevoando bem baixinho as areia leblonienses e ipanemenses. Mas, qual um milagre de anjo vadio, ao virar o Arpoador tudo se dissipava, a névoa e a tristeza das províncias. Porque uma coisa que não existe pra cá do Arpoador é a mesmice provincial e a tristeza de poetas rancorosos.

Ao passar o placar do PAN, entrando na Princesa Isabel, cheguei a uma conclusão. Copa é o lugar dos indiferentes. Em Copa não há ideologias, políticas, tramas universais, planos de ocupação, movimentos de esquerda e direita, anti-americanismo, filo-americanismo, anti-Bush, pró-Bush, celebridades, existencialistas, humanistas, ecólogos, militantes, etc. Em Copa só existem os indiferentes. É como só valesse aquele momento, momento único. Momento de prazer e vadiagem. Seja ao lado de Carlos, seja recebendo uma benção especial do anjo de areia.

18.01.07

Rodiney da Silva
Enviado por Rodiney da Silva em 18/01/2007
Código do texto: T350940
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