O Maior de Todos
É com grande facilidade que cronistas, locutores de rádio e de televisão dizem e juram de pés juntos que fulano ou sicrano é o maior jogador de tal time, todos os tempos. Eu, como um mero torcedor, fico pensando que tempos são esses. Basta um jogador atuar bem em algumas partidas que já é rotulado de um supercraque ou um santo.
Para não irmos muito longe, vamos citar um exemplo: Ademir da Guia. Bom jogador, tanto no Bangu A. C. como na S.E. Palmeiras. Vi e ouvi por muitas vezes, Ademir ser citado como o maior meia armador do Palmeiras, de todos os tempos. Sempre percebi essa afirmação como falta de conhecimento, ou uma tentativa de denegrir a imagem de tantos meias que o Palestra Itália e depois o Palmeiras, tiveram ao longo de sua quase centenária existência.
Senão vejamos: No tri campeonato paulista de 1932/1933/1934, o Palestra tinha como meias, Romeu Pelicciari e Lara. Romeu foi grande craque do Palestra e titular de todas as seleções brasileiras onde jogou, no período de 1934 a 1940, inclusive na Copa do Mundo de 1938, na França, quando conquistamos o terceiro lugar. Lara foi um grande meia esquerda que jogava em todas as seleções paulistas da época. Porém na seleção brasileira havia grande quantidade de meias esquerdas. Arakém do antigo Paulistano e do Santos, Heitor que também era meia, no próprio Palestra, Carvalho Leite no Botafogo, que mais tarde tornou-se um grande goleador como centroavante, e surgiram Tim e Perácio na mesma época. Então Lara enfrentou grande concorrência na sua época.
Porém, segundo depoimentos de grandes cronistas, Lara foi um grande jogador, sem ser “Divino” ou “Santo”. Mas ainda falando em grandes jogadores, o Palestra, durante as décadas de 30 e de 40 formou esquadrões imbatíveis, como a linha de 1931 com um craque em cada posição: Ministrinho, Romeu Pelicciari, Heitor, Lara e o argentino Osses.
Pena que hoje em dia, falar do passado do futebol paulista ou brasileiro é complexo de saudosismo, ou um pouco de idade.
Outro meia esquerda, ou direita, muito bom foi Viladonica, jogador uruguaio que o Palestra foi buscar no Vasco da Gama, do Rio de Janeiro. Era um maestro regendo a orquestra do Palmeiras que havia mudado de nome por causa da 2ª Guerra Mundial, e formou uma linha que poucos irão se lembrar: Cláudio Cristóvão do Pinho, Viladonica, Echevarrieta, Lima e Pipi. Outro jogador que tem de ser lembrado por todos os esportistas do Brasil é Eduardo Lima. Ele jogava em todas as posições do ataque de 1939 a 1952. Se naquela época premiassem o melhor jogador em campo Lima teria de construir um depósito só para guardar os troféus que por certo receberia. Era um jogador fabuloso.
Mas quem se recorda de outro que deixou uma bela história quando passou pelo Palmeiras: Jair da Rosa Pinto, aquele mesmo que começou no Madureira A. C., junto com Lelé e Isaías, e que passaram juntos para o C.R. Vasco da Gama, do Rio de Janeiro. Jair também jogou pelo Flamengo do Rio antes de vir para o Palmeiras. Jair foi meia esquerda das seleções cariocas, brasileiras e paulistas. Era figura obrigatória em todas as seleções no período de 1942 a 1953. No Palmeiras, uma das linhas que deixou saudades foi a de 1950: Lima, Canhotinho, Aquiles, Jair e Rodrigues.
Tivemos também, outros excelentes atacantes que marcaram presença no Palmeiras e nas Seleções Paulista e Brasileira como Humberto Tozzi, Altafini (o Mazzola), Romeiro, Artime, o grande Chinesinho que chegou a atuar no futebol italiano (Juventus de Turim), e muitos outros, mas os cronistas de hoje não se lembram e nomearam Ademir da Guia como o melhor maia atacante de todos os tempos da história do Palmeiras.
Quanto a Ademir da Guia devemos dizer que foi um grande meia esquerda que ajudou o Palmeiras a ganhar muitos títulos. Jogador honesto, sincero e muito leal para com os adversários. Ele deve ter seu nome gravado com letras de ouro n história do futebol. Era um jogador muito simples se muito querido por todos. Eu acredito que ele, com todo o equilíbrio que o caracterizava em campo, não aceitaria ser chamado como o melhor jogador do Palmeiras de todos os tempos.