SISTEMA SOFISTA ( "O sofismo é a arte dos hipócritas." — Ale Ruffini)

Lembro-me como se fosse hoje o primeiro dia em que entrei naquela sala de aula lotada, com cadeiras enfileiradas de forma opressora e um quadro envolto por uma iluminação precária. Havia um ar de tensão no ambiente, como se eu estivesse entrando em uma arena de batalha, não em um templo do saber.

Desde o início, percebi que o sistema educacional público criava uma estranha dinâmica entre alunos e professores. Éramos vistos como adversários, não aliados na jornada pelo conhecimento. Os critérios de avaliação, supostamente justos, pareciam meras fachadas para subornos disfarçados de "pontinho para tudo".

Os alunos, esvaziados de conhecimento útil e condenados à incompetência funcional, não me respeitavam como professor. Eu era apenas uma metonímia daquele sistema falido que os oprimia. Contudo, fora da sala de aula, esses mesmos estudantes me cumprimentavam efusivamente, como se fôssemos "bons amigos".

A desconfiança pairava no ar, e qualquer metodologia que eu tentasse implementar, por mais bem-intencionada que fosse, esbarrava em um muro de resistência psicológica. Como construir conhecimento quando a via de transmissão é interrompida por barreiras emocionais tão espessas?

Mas o pior ainda estava por vir. Em meio a salários aviltantes e condições de trabalho precárias, o sistema nos mantinha presos, envelhecendo em serviço até adoecermos. Afinal, segundo as autoridades, nossa "feiura" e "carrancismo" poderiam prejudicar o aprendizado dos alunos.

Éramos peças descartáveis naquela engrenagem corroída, cometendo os mesmos erros repetidamente. Se tentássemos parar, a máquina travaria completamente. Era melhor continuar girando, mesmo que faltando alguns dentes — Refiro-me à dificuldade que enfrentamos para tomar posse da aposentadoria conquistada por direito.

Os professores faltavam ao trabalho para aliviar o sofrimento, enquanto os alunos sequer traziam os livros, que ganharam do governo, para a sala de aula. A desordem reinava, e ninguém parecia saber apontar o culpado: o Sistema Sofista.

Nessa dança absurda, percebi que estávamos todos impregnados pelo vazio daquela realidade. Enquanto os professores valorizavam a idiotice em uma tentativa desesperada de se conectar, os alunos eram consumidos pela apatia e pela descrença.

No fim, o paradoxo se revelava: em um ambiente destinado a cultivar mentes brilhantes, éramos tragados para as profundezas da ignorância e do desalento. E, ainda assim, continuávamos girando, dia após dia, presos a esse ciclo interminável de desilusão e frustração.

Mas eu me recuso a perder a esperança. Pois, mesmo diante de tantos obstáculos, acredito que a boa educação pode ser a chave para romper esse ciclo opressivo. Basta termos a coragem de encarar o Sistema de frente e exigir as mudanças necessárias para que, um dia, as salas de aula voltem a ser verdadeiros templos do saber.

ALINHAMENTO CONSTRUTIVO

1. Narrativa e Clima:

O autor inicia o texto descrevendo a sala de aula como um ambiente opressor e tenso, comparando-o a uma "arena de batalha". Descreva como essa caracterização contribui para o tom geral do texto e para a crítica que o autor faz ao sistema educacional.

2. Relação entre Alunos e Professores:

O texto apresenta uma visão crítica da dinâmica entre alunos e professores no sistema educacional público. Analise como o autor retrata essa relação e quais os fatores que, segundo ele, contribuem para a desconfiança e a falta de respeito mútuo.

3. Crítica ao Sistema de Avaliação:

O autor critica os critérios de avaliação utilizados no sistema educacional, chamando-os de "meras fachadas para subornos disfarçados de 'pontinho para tudo'". Explique como essa crítica se relaciona com a visão do autor sobre o papel da educação e os desafios para a construção do conhecimento.

4. Condições precárias de trabalho e desvalorização dos professores:

O texto denuncia as condições precárias de trabalho e a desvalorização dos professores no sistema educacional. Discuta como esses fatores impactam a qualidade do ensino e a motivação dos docentes.

5. A busca por esperança e a luta por mudanças:

Apesar das críticas contundentes, o autor demonstra ter esperança em um futuro melhor para a educação. Analise como ele expressa essa esperança e quais as mudanças que ele considera necessárias para que as escolas se tornem verdadeiros "templos do saber".