A ALMA E A ARTE.

“Um ponto no espaço do plano, a cada um de nós resultará uma perspectiva.”; pontifica internauta sagaz, Lilian Reinhardt, em comentário à crônica minha.

Uma retórica aparentemente singela, mas de lente fortemente ampliada por uma visão abrangente, e própria.

“Tudo vale à pena se a alma não é pequena”; a frase é de Fernando Pessoa, poeta português de desnecessária apresentação.

Um ponto de Salvador Dalí leva a vários caminhos no plano como perspectiva. O surrealismo passeia por vários caminhos em uma só tela. A visão de uns alcançam, a de outros não. São diversas as projeções pretendidas. Uns veem, outros não.

Na arte a alma tem sido apequenada diante da expressão artística inferiorizada pela ostentação de poder e riqueza exibicionistas que frequentam os leilões celebrizados por números; 104 milhões de dólares por um Picasso. É assim também na vida em suas sequências e consequências, na febre de ter sem ser.

Qual é a mais comunicativa atividade humana independente de aculturação, informação e formação? A arte.

Ela é tudo nesse “mundo pequeno” que habitamos, como o Planeta Terra diante do universo. A moeda compra a arte quando ela é de todos.....

A arte, o mais justo aos olhos aliado ao mais belo, combate os que estão distantes do bem, que como sobras, involuem no caminho existencial, fortes na vaidade e fracos na verdade do eu, que se apaga em interior de sombras.

A arte repara tais arestas, é referencial na passagem das eras. Única forma de linguagem grafada, pintada, esculpida, que pode ligar gerações, eras, épocas, a mostrar e demonstrar a humanidade o que seja seu ser mais excelente, o homem que pensa, tem alma. Tem sido assim.

As gravuras rupestres assim demonstram, como a gruta de Lascaux que constitui uma referência incontornável no domínio da arte rupestre.

Seriam pinturas de 17 000 anos. Nada se escrevia então.

Lendo entrevista com quem seria o maior crítico vivo da verdadeira arte (arte plástica) do Planeta Terra, o australiano Robert Hughes, vejo sua crítica absolutamente própria, sic :

“Vivemos numa era muito pobre em matéria de artes visuais. Hoje se pode encontrar bons escultores e pintores, mas a idéia de que a arte atual possa se igualar às enormes realizações do passado, entre os séculos XVI e XIX, é um disparate”; “Não ligo a mínima para bienais. Elas hoje têm relevância só para os negociantes de arte. A atmosfera do circuito internacional é corrupta, vive de criar modismos para faturar”.

O que dizer então do que se pretende como arte, na acanhada literatura negociada, tão posterior à comunicação dos homens pela plástica?

É plena de verdade sob todos os enfoques a crítica, e ela se adequa ao que se lança em vocábulos que se dirigem à alma.

Quem mais ficou na história nada escreveu, O Messiah, em grego o Ungido, Cristo. Essa foi a negociação da literatura com o espírito, oralizada, fora do perímetro pagão e espúrio da moeda.

Não conseguimos visibilizar nada além dessas épocas como colocado pelo eminente crítico depois de corrermos museus e excelências festejadas mundo afora, nada de escultura, por exemplo, além do movimento do barroco, que saiu da estática, superando a ausência de movimento, se colocarmos o David de Bernini ao lado do de Michelangelo, muito menos se formos ficar extasiados diante do Laooconte nos Museus do Vaticano ou da Vitória de Samotrácia no Louvre, de autores desconhecidos.

O que falar do resto? Florença é pouco perto da antiguidade (berço da renascença) e tudo para quem tropeça em suas ruas nas obras de arte que ostenta que geram encantamento. É um turbilhão de beleza e nada mais é preciso ver depois que se descobre Florença e suas belezas como o fez no fim da vida Paulo Francis, enraivecido pela descoberta tardia.

O que dizer então do não grafado plasticamente como arte de escrita? Esta conforma e informa, e ascende pelo pensamento para melhorar o homem, E SÓ..... As cartas de Van Gogh são menores que suas pinturas, embora um apostolado de pensamentos que repousam em sabedoria.

Afastado o comércio de falsidades em que se envolveu a máxima expressão humana, a arte plástica, pela censurável busca do lucro, é possível ainda sonhar com a arte pura que supera todas as outras habilidades do ser humano, realiza os sentidos, alcança espaços diversos, envolve as permanências da existência, supera calendários, comunica na ponte do tempo espíritos iguais e desiguais, aproximando afinidades, estabelecendo encontros não imaginados na ampulheta da história que escoa universalidades; enfim, aglutina a humanidade em sua secularização e mesmo milenar.

O verbo como arte surgido após a arte como plástica, sintonizando ou pondo em embate o pensamento, é aparentemente forte como a tinta ou o cinzel, mas afasta mais o homem do que o aproxima.

Pode-se dizer que mais comprometeu do que engrandeceu o homem por seus combates instigantes e insistentes em não realizar o fim humano maior; a bondade, a harmonia social.

Arte imaterializada, pura, sagrada, a que poucos chegaram, o real talento, a máxima dotação, vive no ponto onde os sentidos visibilizam e percebem e o talento perceptivo não registra, atravessa o curso do tempo definindo-o; esta a história da arte, a reportagem da humanidade.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 18/02/2012
Reeditado em 18/02/2012
Código do texto: T3506224
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