Acontecimento “bundástico”
Além dos fatores naturais que me deslumbram a cada dia pela beleza que possuem (o mar sob o sol ou sob a lua, o céu em suas nuances surpreendentes, os gatos que espiam com olhos de farol sobre o muro...) nada muito admirável estava acontecendo, que viesse agitar a rotina mórbida do meu verão sem férias. Até outro dia, quando algo aconteceu.
Caminhava pelo perímetro urbano que utilizo para praticar minha maratona diária, quando, de repente, fui surpreendida por uma enorme e saliente bunda se escancarando toda num outdoor à minha frente. Passado os primeiros segundos de susto, joguei a cabeça um pouco para trás e pude perceber que a bunda tinha um corpo e, sustentada sobre ele, uma cabeça.
Como péssima fisionomista que sou, no primeiro momento não consegui identificar quem era a dona daquele apetrecho exagerado que, a meu ver, estava no lugar errado. A palavra antiquada não combina nem um pouco comigo, mas confesso que achei, no mínimo, deselegante ter uma enorme bunda, praticamente nua, escancarada na esquina do meu bairro. Num segundo momento, soube que se tratava do troféu da Mulher Melancia que estaria se apresentado por aqui.
Como se não bastasse perder o norte por causa da bunda, perdi o sul tentando descobrir qual o nome que se dá para quem faz show de bunda. Bundora? Porque cantora ela não é. Bundista? Artista muito menos... Em meio a este devaneio quase fui atropelada e ainda tive que me justificar com o motorista:
– Desculpe! É culpa da bunda!
Voltei pra casa com a bunda na cabeça.
No dia seguinte já a havia esquecido, até que (desta vez de carro) dou de cara novamente com ela. De tão voluptuosa, a impressão que tinha é que (como uma vizinha bem educada) deveria cumprimentá-la.
– Bom dia dona Bunda!
Mas ao chegar mais perto vi que a bunda já não era mais a mesma. Sobre ela, de uma extremidade a outra, havia uma mancha marrom que me lembrou a “inheca” nojenta, que todo mundo conhece e é muito próxima destas redondezas. Tive a certeza de que eu não era a única que desaprovava um monumento “bundástico” na esquina do meu bairro.
Desta vez voltei para casa com a bunda suja na cabeça.
No terceiro dia de vizinhança tumultuada fui caminhar no trajeto de sempre e lá (na esquina), adivinhe quem me esperava? Bunda. A mim e ao meu senso de educação bairrista.
– Bom dia Bumbum! – já estávamos ficando íntimas.
Arreganhada na esquina, Bumbum estava surpreendentemente limpa! A “inheca” marrom tinha sumido completamente e ela voltara ao normal. Alguém havia restaurado o monumento.
Caminhei novamente com a bunda na cabeça, mas desta vez tomei cuidado para não ser atropelada.
No quarto dia, já pronta para o cumprimento diário, me deparo com a bunda vizinha suja de novo.
Definitivamente, eu não era a única que não tirava a bunda da cabeça. Alguém com mais convicção e atitude estava assinando o tratado de expulsão da monumental inquilina da esquina incansavelmente.
– Desculpe Bumbum, mas tenho que concordar com eles, você não é bem-vinda aqui.
E foi deste jeito, de uma forma espantosa que vi a liberdade de expressão ser delimitada pela liberdade de permissão. Pela primeira vez, sem balburdia, baixaria ou briga, vi o bom senso ser ouvido e respeitado. Com determinação, persistência e “inheca” marrom, Bunda foi banida.
Assim, além das belezas da natureza testemunhei algo admirável neste verão.
Mulher Melancia continuou lá, só que desta vez bem vestida em um tubinho preto. E como toda vizinha que se preze... Entre um cumprimento e outro, não consegui segurar:
– Bom dia! A título de esclarecimento, você é bundora, bundista ou bundarina?
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