Um dia colorido

Todos os meus dias são cinzas. Às vezes sinto que uma nuvem me acompanha de casa ao trabalho, pelas ruas, no ônibus.

Ela entrou pela porta de trás, carregando uma caixa de papelão. Vendia jujubas para ajudar a mãe desempregada e os irmãos pequenos. Amarela, verdes, roxas, rosas. “É duas um real”, me disse sorrindo. Tirei uma nota amassada do bolso e comprei as balas coloridas. Ela sentou do meu lado, “Trânsito, não?”. “Odeio essa cidade”, respondi enquanto olhava o congestionamento. Ela riu. Ela riu de mim. Ela riu de mim porque sabe que sou um idiota, só vendo cinza onde há tantas cores.

Abri meu pacote de jujubas. Saboreei as balas como se cada uma delas tivesse um gosto diferente. Morango, groselha, hortelã. Sorri timidamente. Ela me olhou nos olhos, eu chorava. Odeio essa cidade.