Calada noite preta

2:40 da madrugada. Um caminhão barulhento coletava lixo na rua e me acordou. "Filha da p$@#!..." Tentei relaxar e abstrair do incômodo, mas alguma outra coisa me perturbava. Não era um som, não era uma luz. Era uma sensação infausta de estar sendo observado. Um clichê de filmes C, mas não resisti e levantei o rosto percorrendo o quarto com os olhos.

- "CREEMDEUSPAI!!!"

Foi como chutes no estômago. A cabeça girou e náuseas tomaram conta. Já ia pular pro chão, me esconder no canto da parede, chamar os Caça-Fantasmas, quando ouvi:

- Não consigo dormir...

Era meu filho, insone, alheio ao meu pânico, maltratando minhas psicoses. Estava enrolado em um lençol e ficou parado esperando que eu acordasse pra pedir socorro. São pequenos requintes de crueldade do cotidiano. Precisava do lençol?! OK. Precisava. Ainda não existe melhor proteção contra medos noturnos.

- Vem cá, querido. Me dá um abraço. Pode dormir no meu colo.

Viver com crianças é uma intensa aventura. Ficamos continuamente à mercê de acontecimentos engraçados, incomuns, belos, estranhos, comoventes, bizarros. E, mesmo sem perceber, esperamos apaixonados por cada um desses sustos.

O pimpolho dormiu lindamente. E eu tive pesadelos pelo resto da semana.