Os blocos do Rio de Janeiro




 
                        Amanhã, dia 18/02/2012, é sábado de carnaval.  Devo dizer aos amigos e amigas que atualmente ignoro solenemente o carnaval e fico torcendo para que acabe logo esse período de Momo. O dono do Bloco do Catete me conhece e sempre me convida para participar do bloco, mas fujo do convite. Mas quero reproduzir aqui o que escrevi sobre o carnaval do Rio no ano passado e muita gente não teve a oportunidade de ler a crônica que vai reproduzida a seguir.                                                 
                                         
                          O Bairro do Catete no Rio de Janeiro, posso afirmar, é o lugar mais conhecido da antiga cidade maravilhosa. Todos os nordestinos,  nortistas,  mineiros, gaúchos e estrangeiros costumam se hospedar naquela área e adjacências. Bairro estratégico, na zona sul, e a dez minutos do centro do Rio.
                         Assim, quem vai a primeira vez ao Rio acaba no Catete. O preço dos hotéis e pensões não é caro, muito camelô pelas ruas, daí a atração irresistível do bairro, que meu pai, fazendo graça, dizia que era o frege do Rio, por achá-lo sujo, confuso e de não muito boa aparência. Mas o fato é que o “marinheiro de primeira viagem” que vai ao Rio sente uma atração irresistível pelo local.
                       Eu mesmo, que não moro mais no Rio, quando quero dar minhas voltinhas por lá me hospedo no Hotel Imperial, na rua do Catete. Estive lá no dia 10 de janeiro.
                     Em pleno clima de carnaval, noto a novidade no nosso querido frege: enorme faixa na rua convidando a moçada para entrar no bloco  a ser inaugurado no dia 20 de janeiro ,dia de São Sebastião do Rio de Janeiro,  com o sugestivo nome “Balança meu Catete” .
                    Com pruridos de moralismo, na verdade não sei  o por quê dessa  crise repentina, comentei com um colega  que haviam exagerado no nome do bloco. Crítica anotada por ele, me apoiando  com prazer.
                  No entanto, por incrível que pareça,  talvez pela proximidade da folia de Momo, onde a lei e a ordem vão pra debaixo do tapete, vejo diariamente na televisão uma propaganda, aliás bem feita, sobre a tradição dos quilombolas do Estado do Pará, onde recebemos uma aula sobre samba. Tomamos conhecimento da   dança deles e, o mais importante, o uso de uma madeira dura para o batuque chamada  pelo grupo de cacete. Após uma bela peroração e apresentação ao vivo do samba, o explicador encerra enfaticamente: “ Senhores, a alma do samba é o cacete”. (sic)
                 Ora, depois dessa, cheguei  a vislumbrar uma certa ingenuidade no nome do bloco da rua do Catete. Simplesmente, “Balança meu Catete”, sem  insinuar  que a alma do samba é o cacete.
               Como todos sabem, e aí chego no ponto que estou querendo falar, está havendo um soerguimento dos blocos de rua, que tanto encantaram a minha geração no Rio. Sou do tempo do “Bafo da Onça”, Caciques de Ramos, Cordão do Bola Preta, de onde fui expulso com dez minutos de baile (uma tremenda injustiça), Banda de Ipanema e do  Suvaco de Cristo, que um cardeal tentou mudar para “axilas divinas”, mas a turma resistiu bravamente.
              Apenas para efeito didático e a crônica  de hoje é  informativa, lanço o nome de inúmeros blocos cariocas, que ainda conservam aquela irreverência tão decantada por todos nós e, pasmem, a alusão ao “Catete”, vamos dizer assim, parece generalizar-se,    é uma constante também irresistível.
                  Só posso justificar tanta heresia com o grito explodindo do meu peito: - É CARNAVAL!!!  Em ligeiro transe, mas com os dois olhos bem abertos, penso: “não seria nada mal dar um pulinho no Rio e prestigiar esses blocos tão criativos... Afinal, de carioca eu entendo!
                Mas  vamos ao nomes, não sem antes dar uma explicação sociológica para o verdadeiro espírito do carioca. Os nomes ambíguos inventados pela turma do Rio não têm a intenção de ferir ninguém, mas apenas brincar com a dubiedade... Dirão os meus queridos leitores: Com essa certeza toda você é, pelo menos, filho de cariocas? No que prontamente responderei: "Não, sou pai! É verdade, sou pai de duas cariocas e, de quebra, irmão também de carioca. Estou pois autorizado a dizer que os cariocas não têm essa maldade toda que os desavisados possam deduzir. E na verdade, tenho dupla naturalidade, sou manauoca (nascido em Manaus e criado no Rio).  Passo a enumerar os convites que recebi,    dentre tantos outros blocos, encerrando esta crônica com o máximo decoro,  se isto é possível...
             Blocos de Rua :
Cheiro na Testa
Pequeno Mas Vai Crescer
Escorrega na Baba do Quiabo
Espreme Que Sai
Pinto Sarado
Vestiu uma Camisinha Listrada e Saiu por aí
Brochadão a Hora é Essa
Calma , Calma Sua Piranha
Cutucano Atrás
Desliga da Justiça
Katuca que Ela Pula
Largo do Machadinho, mas não Largo do Suquinho
O Pluto é Filho da Pluta
Perereka Sem Dono
Rola Preguiçosa Tarda, mas Não Falha
 
Vem Ni Mim Que Sou Facinha
Vai Tomar No Grajau
O Negócio Tá Feio e o Teu Nome Tá No Meio.
                      Mas antes de terminar,   recomendaria, ainda,   para quem não é do Rio os seguintes blocos: Bagunça meu Coreto, no Flamengo; Imprensa que eu gamo, nas Laranjeiras onde morei; Nem muda nem sai de cima, no bairro da Muda, pertinho do Méier; Imaginou agora amassa, do Leblon; Carmelitas, em Santa Tereza; Badalo de Santa Tereza; Concentra mais não sai, também de laranjeiras (pessoal criativo esse de Laranjeiras); Empurra que pega, no Leblon; Bloco da Ansiedade, também em Laranjeiras, muito frequentado; Largo do Machado, mas não largo do Copo, no Largo do Machado; Bloco Galinha do Meio-Dia, em Copacabana; Se melhorar afunda, em Niterói (Niterói não podia faltar); Mulheres de Chico, no Leblon; Se me der eu como, na Tijuca; Se não quer me dar... me empresta, na Lapa (só podia ser!); Que merda é essa? ( quem me conhece sabe que adoro esse inocente palavrão, mas juro que não  fui eu que criei esse bloco) e por último, pela primeira vez, o bloco dos cegos do Instituto Benjamim Constant, o primeiro do mundo, intitulado  BeijaMim no Escuro.
                       Toca o telefone.
                      – hein? Sim, sim, sou eu mesmo! O quê?  Reservaram pra mim uma  estada de quatro dias no carnaval deste ano, para um retiro espiritual no mosteiro do terceiro olho do Buda, em Brasília???  É o quê???  Pra confirmar!?!?!?#@#@???