O CANÁRIO
O CANÁRIO
Conforme o dicionário Aurélio, canário é uma ave canora, de plumagem predominantemente amarela, originário das Canárias (África Espanhola) e que se difundiu por quase todo o mundo.
A campainha tocou e ele, com a maior preguiça do mundo, levantou-se do sofá e foi ver quem era, pois não esperava visitas a essa hora. Abriu a porta e não acreditou no que estava vendo. Será um sonho? Uma morena de tirar o fôlego, corpo bem torneado, olhos verdes, de short curtinho e camiseta solta. Com diria, ficou babando e ela percebeu.
- Olá – disse ela – sou a nova vizinha e vim ver se você tem para emprestar um pouco de alpiste, que é para tratar dos meus dois canários.
- Pensei que era açúcar!
- Como?
- Nada não. Só pensei alto.
- Você tem ou não tem?
- Infelizmente não tenho, mas preciso dar uma saída e posso trazer para você.
- Não quero lhe dar trabalho algum.
- Imagina, é um prazer.
- Então vou esperar - respondeu ela.
- Acho que vamos nos dar muito bem. Até mais.
Trocou-se e desceu para a garagem onde estava o carro. E já ia maquinando o tipo de cantada que ia dar.
Saindo foi até a venda do seu Manoel.
- Não tenho Geraldo. Mas desde quando você cria passarinhos?
- Desde hoje, seu Manoel, desde hoje!
Apressado que ele só foi ao supermercado, que a estas horas achar um lugar para estacionar já era um verdadeiro milagre. Mas milagres acontecem e ele achou um, meio escondido, mas está bom demais.
Comprou o alpiste que a estas horas já valia preço de ouro. Meia hora mais na fila do caixa e, já na fase de loucura pela morena, mais apressado ainda voltou para o apartamento. Esperou um pouco até a adrenalina baixar um pouco. Mas com umas idéias na cabeça, que só poderia ser de jerico. Mas foi em frente.
Bateu à porta do tão cobiçado apartamento. E viu a porta se abrir.
- Pois não – disse um moreno que parecia um guarda roupa. Um e noventa de altura e, ainda por cima, faixa preta no judô, pois estava com a roupagem de um.
Antes que ele falasse alguma coisa, ouviu-se uma voz meiga saindo lá do apartamento.
- Bem, é o vizinho ai dá frente. Ele foi muito gentil ao comprar o alpiste para o seu canário. Agradeça a ele e diga que depois eu pago.
- Ora, não é nada. Mas não eram dois canários?
- Claro. Um é o que está lá na gaiola e o outro sou eu. Muito prazer sou o Luiz Alberto Canário. Muito obrigado amigo.
E fechou a porta.
Foi uma ducha de água fria para o que estava imaginando fazer. Saiu cabisbaixo, como um cachorrinho com o rabo entre as pernas e voltou ao apartamento, ao sofá, para curtir o resto da preguiça que ainda tinha. Se é que ainda tinha alguma.