TROCA DE NOME
Eu nasci no dia 24 de abril de 1972, no Sítio Chã de Areia, Pilar, Paraíba. Sou filho do agricultor Severino Honorato da Silva e da dona de casa Maria José da Costa Silva. Dos sete filhos de minha mãe eu fui o quinto, que pela ordem cronológica receberam os seguintes nomes: Evaldo, Egilson, Elenilda, Evando, Antonio, Marcone e Valter. Observe que a seqüência dos E’s foi quebrada com o meu nome.
A minha irmã Elenida morreu com nove anos de idade vitima de um atropelamento quando retornava da escola. E meu irmão Evaldo, o mais velho, morreu em março de 2009, com 43 anos de idade.
Meus pais, mesmo dispondo de pouco recurso financeiro, souberam nos educar para vivermos nesse mundo com dignidade, como pessoas honradas e tementes a Deus.
Hoje sinto muito orgulho de ser filho de agricultor, pois foi no campo que aprendi a compreender, amar e a respeitar os mais humildes, àqueles que são menos favorecidos na vida.
Trago doces recordações do Sítio Chã de Areia, onde tive o privilégio de passar toda a minha infância e parte da juventude.
Em meu nascimento aconteceu um fato curioso entre a minha avó paterna, Dona Etelvina, e a minha mãe Dona Maria José, com relação ao meu nome que foi mudado de Fernando para Antonio. Pois, minha avó tinha combinado com minha mãe que quando chegasse a hora de eu nascer, mandasse avisá-la, pois gostaria de assistir ao nascimento de seu novo neto que segundo a preferência de minha mãe, deveria chamar-se Fernando e não Antonio como haveria de ser.
Entretanto minha mãe, mulher de forte personalidade, não querendo, talvez por pudor, a presença constrangedora de sua sogra na hora do parto, não mandou avisá-la que a parteira da região, Dona Josina, já estava a postos, pronta para trazer ao mundo o seu novo rebento. Porém o parto se complicou, as horas se passavam e eu não dava o ar de minha graça. Minha mãe angustiada gemia, em meio às dores das contrações. Então meu pai foi chamar sua mãe para que, com toda a sua experiência, viesse ajudar no meu nascimento.
Minha mãe exausta, já não se importara mais com a chegada de sua sogra, pois não sabia mais o que fazer para dá a luz a aquele menino cujo nome deveria ser Fernando. Eu imagino que não estava gostando nadinha de ser chamado de Fernando, nada contra o nome Fernando, mas porque eu me agradava mais do nome Antonio. Por isso eu estava dando aquele trabalhão para nascer, e certamente argumentava em meio às águas mornas da placenta: com este nome eu não nasço!
Foi quando minha avó entrou no quarto e do alto de suas superstições, ela disse:
“Menino que demora a nascer
só uma esperança lhe resta
por o nome dele Antonio
que ele nasce de pressa!”.
O verso foi engraçado, mas eficiente. Minha mãe, sufocada pelas dores, não contou história e replicou:
“Se é pro menino nascer
e esse sofrimento acabar
então a partir de agora
Antonio vai se chamar”.
Não demorou muito e eu nasci chorando feito um desesperado, pois minha recepção não foi como eu esperava; que negócio é esse de apanhar no primeiro minuto de vida?... Meu pai sorria aliviado pela chegada de mais um filho macho que certamente serviria de mão de obra gratuita para ajudá-lo no roçado.
Minha avó, com a sensação de quem tinha realizado um grande beneficio para humanidade, também sorria. A parteira, após cortar meu umbigo, colocou-me ao lado de minha mãe. Então me acalmei ao calor dos seus braços. Quando fui direcionado a um peito enorme onde fiz a minha primeira refeição fora do ventre. Finalmente satisfeito olhei sorrindo para a minha avó que se aproximara para ver com quem eu me parecia, e antes que ela me balbuciasse alguma coisa, naquele momento o que eu gostaria mesmo era de poder dizê-la: valeu vovó! Obrigado pela sugestão, pois eu queria mesmo era ser chamado de Antonio!