O Camaro
Na semana passada, mais especificamente na quinta feira, me aconteceu algo interessante que despertou a vontade de refletir e relatar. Por causa de uma crise alérgica (que continua firme e forte há algumas semanas) tive que procurar um alergista. Coincidentemente uma amiga trabalha numa clica de alergia e lá fui eu. Saí daqui do extremo leste para chegar até a Rua Marques de Itu, no centro de São Paulo. Após sair do metro e caminhar algumas quadras parei em um cruzamento para esperar o farol abrir. Junto a mim estava um homem utilizando muletas por ter uma de suas pernas bem machucada. Do nada, olho para o tal homem e o percebo fazendo gesticulações alvoroçadas e extravagantes.
Curioso quis saber o que causava naquele homem tamanha reação. Quando olho para minha esquerda, lá está ele, a causa da agitação daquele homem, um Camaro Bumblebee (Quem é fã de carro e dos Transformes, entende). A preocupação do homem não era em atravessar o farol e muito menos estava fazendo sinais para o condutor, do maravilhoso carro, diminuir para que ele pudesse avançar. Longe disso, ele queria era ouvir o ronco do motor e não ficou decepcionado diante do espetáculo. Já eu fui tomado de assalto por um sentimento de desanimo e frustração. Ali parado, tomando chuva, tossindo, comecei a pensar em como minha vida seria diferente se eu tivesse um Camaro, na verdade, naquele exato momento, minha frustração era por não ter um Camaro.
Esses sentimentos ficaram congelados em mim durante todo o dia, até que novamente me deparei com a criatura que me torturará durante todo o dia, o Camaro. Dessa vez ele não era amarelo e não estava no centro de São Paulo. Ele era todo preto com faixas brancas e nosso encontro foi na saída do shopping Aricanduva. E novamente eu estava lá, tomando chuva e tossindo quando o vi. Novamente comecei a me sentir o ser menos agraciado do mundo, tudo porque, não tinha um Camaro.
Interessante como a gente passa boa parte de vida se lamentando e se diminuindo por aquilo que não temos. A cada encontro com algo além das nossas possibilidades, já amaldiçoamos a realidade na qual vivemos. Talvez seja porque vivemos numa época em que o que define o ser é o ter. O sistema diz pra nós que somos fruto daquilo que temos. Se eu não tiver um iPhone, um iPad, um BlackBerry, ou qualquer outro aparelho da “moda”, não sou legal. Pior, eu posso ter qualquer um deles, mas assim que surgir uma nova versão, pronto, tenho que tê-la se não...
Grande parte de nossas frustrações advém dessa crise de identidade. Gente que não é contente consigo mesma e vive querendo mudar isso ou aquilo. Estouramos nosso orçamento comprando coisas que não precisamos, tudo porque achamos que o ter afirmará o ser.
“Eu sei quem eu sou, independente do que eu tenha ou passa ter, eu sei quem eu sou!” Essa foi uma frase que ouvi por acaso (será?!) na noite em que voltava pra casa chateado, refletindo sobre meu encontro com o Camaro, que despertou uma série de frustrações. E ela me fez perceber que na vida podemos ficar sentados lamentando e desejando algo, que poderemos nunca ter, ou nos levantar e desfrutar daquilo que já temos.
Conheço muita gente infeliz, simplesmente porque não é contente com o que é e com o que têm, antes vive pelo “se eu fosso isso...”; “se eu tivesse aquilo”; “quando eu for...”; “quando eu tiver...” Pois é... Eu vi um Camaro e pensei: poxa nunca terei um Camaro. Mas logo me lembrei de que o que mais importa é o que sou, com ou sem Camaro, porque quando aquilo que se é e que se têm basta, a vida se torna mais feliz.