As donas do mundo


     Pensei em escrever mais uma crônica sobre o carnaval. Tinha até me preparado para comentar uma conhecidíssima frase de Machado de Assis sobre o rei da folia.
     Numa crônica escrita em 1894, sentenciou o Bruxo: "No dia em que o Rei Momo for de todo exilado deste mundo, o mundo acaba."
     Sua frase tem, portanto, mais de um século e não há como contestá-la. É perfeita.
     Após ligeira reflexão, achei que já havia rabiscado o suficiente sobre o nosso sufocante carná, mormente sobre o carnaval da Bahia.
     Imediatamente conclui, que voltar ao assunto, correria o risco de me fazer cansativo e inoportuno.
     Evolui, então, para um tema de manifesta ternura, distante que estou do miolo da fuzarca.  Aqui na Pituba, a Quaresma parece antecipada. Graças ao bom Deus.
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     Vamos falar de mulheres que é bem melhor.
     Ainda que sobre elas, de repente, eu venha a dizer coisas que todo mundo sabe de sobra. Pouco importa. 
     Vamos lá. 
     Não é novidade que elas estão cada vez mais tomando conta do pedaço. Ocupam cargos importantes, de relevo, tanto no serviço público como nas empresas privadas. Elas decidem.
     Parece que acabou, de vez, a era da mulher "cri-cri". Aquela mulher que só fala de crianças e das empregadas domesticas, que o antigos chamavam de "criadas". 
     Temos mulheres governando seus Países; mulheres Ministras de Estado; mulheres deputadas e senadoras; respeitáveis magristradas; mulheres brilhando no Ministério Público; mulheres chefiando grandes empresas e renomados escritórios, etc.,etc.,etc.
     A história vem de longe. Dando uma espiada no passado, lembraria que ilustres senhoras se distinguiram no governo de seus povos e cito estas: Golda Mair, Indira Ganhi e Margaret Hilda Thatcher. Mais recentemente, Verônica Michelle Bachellet presidiu o Chile. Nenhuma delas decepcionou.
     Nos dias que correm, com brilho próprio, Angela Dorothea Merkel, Cristina Fernández de Kirchiner e Dilma Vana Rousseff estão à frente dos destinos da Alemanha, da Argentina e do Brasil, respetivamente. 
     Não governam republiquetas, vale dizer.
     Até agora, não há notícias de que as três tenham decepcionado seus eleitores.
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     "Devem as mulheres governar o mundo?"
     Faço minha esta pergunta de Lin Yutang, abrindo uma de suas maliciosas crônicas, que pode ser encontrada no seu livro Com Amor e Ironia.
     O sábio filósofo chinês - infelizmente esquecido por nossas Editoras - comenta a ideia de uma norte-americana "de que os homens deitaram a perder o governo do mundo, e que para o futuro devemos transferir a direção do mundo às mulheres."
     Yutang é decisivo: "Pois bem, falando como ser humano masculino, sou inteiramente a favor."
     E emprestando à sua crônica um gostoso tom irônico, diz, textualmente: "Quero uma férias."
     Mas, gozações de lado, Lin Yutang faz esta afirmativa, que reputo verdadeira, oportuna e atual: "O mundo não poderia talvez ser mais mal governado ou desgovernado do que tem sido governado por nós homens."
     E continua: "Assim, quando as mulheres dizem: "Nós, moças, precisamos ter também a nosso oportunidade" por que não sermos sinceros, não confessarmos a nossa falência e não transferirmos o governo às moças?"
     Redigo: estou com Yutang e não abro. Sou plenamente favorável a que se entregue o governo do mundo às mulheres.
     E fiquemos, todos nós, homens, torcendo por elas, na aquibancada ou na geral, conscientes do nosso fracasso.
     Ia esquecendo: que desapareça do carnaval, definitivamente, o Rei Momo. Ponha-se nas mãos delicadas das moças o comando da folia. A alegria será completa. 
 
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 15/02/2012
Reeditado em 17/12/2020
Código do texto: T3501214
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