LEITURA X PRECONCEITO
Tenho observado que muitas pessoas cultivam uma atitude que me parece um tanto preconceituosa com relação a certos tipos de leitura. Valorizam como algo bom, digno de ser lido, obras consideradas clássicas tanto nacionais quanto estrangeiras. Não se discute o valor de tais obras. O que quero salientar é a atitude de tais pessoas que além de fazerem distinção entre os tipos de leitura, em decorrência passam a classificar o autor da obra e o leitor como de segundo escalão ou categoria inferior.
Vejo certo desdém pela literatura considerada de auto-ajuda. Aliás, alguns nem consideram literatura.
Outros menosprezam os leitores de best-sellers como se não fossem dignos de serem lidos, pois se configuram apenas como sucesso comercial.
Muitos desvalorizam os livros de Paulo Coelho, outros já me disseram que preferem os livros de fase anterior de Lya Luft porque os livros dela na atualidade se parecem com auto-ajuda. Claro que todos somos livres para pensar, agir e escolher as preferências. Enfatizei que os livros de Lya citados pela pessoa que ponderava eram direcionados para pessoas mais maduras e que ela era muito jovem.
Ocorre que não é possível fazer afirmações sem considerar a realidade social e econômica do nosso país. Não é viável exigir um mesmo tipo de leitura indiscriminadamente considerando como leitor só quem lê um determinado tipo de obra. Há que ser considerado o poder aquisitivo da população em geral, o interesse individual, a localização geográfica, o que dispõe à sua volta, o tipo de família no qual está inserido, o tipo de escola que freqüenta, se freqüenta, o grau de escolaridade que possui ou que se encontra no momento, o maior ou menor incentivo do meio que o cerca.
Ao valorizar só o leitor de obras consideradas clássicas ou universais ocorre uma elitização de um tipo de leitor e, automaticamente, a discriminação com relação aos demais leitores e tipos de leitura, como aquelas que se referem aos autores não clássicos, ou melhor, aos mais populares, mais vendidos, regionais, romances, leituras dirigidas aos adolescentes, as populares revistas em quadrinhos ou gibis, ao público infantil, aos leitores de jornal, de revistas femininas, de revistas especializadas – futebol, carros, esporte em geral, de determinas profissões-, aos que lêem na internet.
Não é irreal afirmar que encontramos quem faça distinção com o tipo de jornal que é lido sem considerar que muitas vezes o gosto pela leitura pode ser despertado por qualquer um destes objetos de leitura. Importa se aquilo que é lido produz algum efeito positivo no leitor, se estimula coisas boas, desperta para uma realidade, ou induz a ter sonhos, ou até esquecer as agruras da vida, ou se consolar, se lhe traz informação, se produz conhecimento, prazer, entretenimento, conscientização, força para enfrentar a realidade ou empreender um novo projeto de vida. Ignorar que o mundo atual produz muitos bens, muitas facilidades mas também muita ansiedade e que uma simples leitura pode ajudar até a compreender melhor o que está sentindo e como pode tentar melhorar é desconsiderar o encanto e o poder das palavras.