Entre o claro e o escuro

Para alguns o título acima caracterizará a tonalidade de um cremoso chope; para outros a alteração climática nesses dias de pouco sol e muita chuva; para os visionários, como Leonardo da Vinci simbolizará a batalha entre o bem e o mal.

Confesso que a aproximação com o último dos tópicos tornar-se-á evidente à medida que a análise do cotidiano for desenhando-se, tomando forma, ganhando contornos. Viverá a luz da claridade como fostes Lampião apelidado, ou como o brilho emitido pela constelação em noites onde apenas as luzes dos astros desobstruem os caminhos. Até mesmo a auréola angelical destaca-se como luz e claridade neste momento. Mas o escuro ainda incomoda, não sei se pelos acontecimentos violentos e desenfreados que tomam conta de nossa sociedade, só sei que o turvo do breu passa constantemente pelo nosso dia-a-dia e dele devemos nos afastar, mesmo que para isso exijamos alguns sacrifícios por parte de nós e daqueles que nos rodeiam.

O corvo negro traz maus fluídos, desgraça, acaba com milharais. Inspira os góticos, embasa filmes, passa medo. O escuro obstrui imagens, ofusca e evita o brilho para os deficientes visuais. Aniquila aos habitantes da caverna de José Saramago. Deixa o Homem mais escondido, impedido de demonstrar o seu brilho. E aí se vão anos acometido pelo desprazer de ter ao seu lado o escuro, impuro, fétido, nefasto. E do escuro surgem alguns substantivos: tempestade – são escuras e com elas estragos aproximam-se vitimando cidadãos inocentes; poluição – vejo a nuvem escura, o oxigênio obstruído e a Terra se acabando; o inimigo – era o seu melhor amigo, de olhar claro, mas por motivos desconhecidos, escuros, tornou-se seu inimigo mortal, dotado dos mais mirabolantes argumentos prontos para lhe exterminar.

Já o claro ronda os sonhos, ilumina a esperança, tenta dar rumos ao Brasil, busca amizades verdadeiras, descobre o amor, arranca da política os homens de bem, pois aqueles que lá estão são ofuscados pelo escuro, e não digo pelos constantes apagões, mas em meio a esse mar que está poluído. E olha que a poluição é a representação do escuro. Há esperança, e esta possui o adjetivo claro.

Sergio Santanna
Enviado por Sergio Santanna em 17/01/2007
Código do texto: T349973
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