O Carnaval Cegou!


O Carnaval se aproxima e a população só quererá saber de folia e de alegria por 4 longos dias de padecimento frenético da moral e dos bons costumes.

O povo não vai querer saber de nada, igualando-se aos políticos, com a ressalva de que os últimos nunca se descuidam de suas contas bancárias construídas sobre os ombros dos cidadãos trabalhadores da nação tupiniquim.

Tupã ordena que se alegre e que se brinde.

Os deuses pagãos sobem ao púlpito e Nossa Senhora venda os olhos igualando-se ao símbolo da justiça.

Todos os pecados estarão perdoados: eis o grande equívoco que se desdobra.

Ainda durante os dias de alegria, veremos hospitais darem entrada aos frutos do excesso: teremos mutilados sem conta, baleados, esfaqueados, bêbados desmoronando e muitas mães nunca mais verão vivos os filhos do Brasil.

Não existe pecado ao Sul do Equador. Tupã gritou e o povo ouviu, mas o povo não sabe dos sofrimentos que advirão, mas se sabe ficou cego para as coisas do bem, e também surdo e mudo. Somente terão sentidos para as coisas da carne, da carne que vai, do carnal e temos aí do diabo o aval: é o carnaval.

Nunca antes nesse país tantos morrerão por tão pouco.

Não vejo as câmeras da folia acompanhando os cortejos fúnebres e nem o brilho fosco das lágrimas maternas que serão derramadas. A tristeza real não dá Ibope. Somente rende a tragédia que levanta multidões, como a queda de aeronaves ou o desmoronar de edificações.

Ninguém quer saber do enterro do pedreiro João, morto em combate pela violência do trânsito, atropelado por uma trupe bêbada, que tinha um terceiro filho vindo ou de outros casos assim.

Querem apenas a ilusão das cores, dos sabores, dos corpos suados se atracando atrás do trio elétrico: a paz de espírito já morreu.

Do outro lado, no entanto, teremos encontros religiosos angariando em orações multidões cristãs das três grandes vertentes nacionais: católicos, espíritas e evangélicos. Essa tribo precisará rezar muito para contrabalançar o peso dos nossos pecados coletivos.

E há de se falar que essa política circense faz bem aos dilapidadores do patrimônio nacional. Durante o culto pagão, as notícias de corrupção dão trégua para a passagem dos blocos multicores.

Liguem as sirenes, preparem as macas, escavem-se novas covas: o carnaval chegou! Depois, esquece-se tudo como se nada, nunca, tivesse acontecido...



Veja a publicação desse texto no Diário da Manhã, Goiânia:

http://www.dmdigital.com.br/novo/?ref=dmsite#!/view?e=20120215&p=36