Valorização do professor - papo de educador
Outro dia, enquanto conversava com um diretor de uma escola pública, ele me perguntou o que seria, dentro da minha perspectiva, valorização do professor. O primeiro estranhamento que tive foi perceber que essa pergunta não era retórica, mas o fato de ele (um diretor) realmente não saber a resposta. Pude fazer essa constatação catastrófica durante toda nossa conversa. Se fosse este diretor o único indivíduo inserido na educação e que não entenda desse processo, ficaria tudo muito mais simples. É inacreditável, mas há muitos iguais a ele, declaradamente não sabem o que é valorização dos profissionais de educação ou melhor, não sabem o que é educação, antes, sabem como arrecadar fundos para as instituições, mas envolvimento no ensino aprendizagem é algo ignoto para eles, distante até.
No diálogo com o diretor, considerando as condições internas da instituição a que ele pertence, afirmei que valorizar o professor começaria em levar em consideração os pontos positivos desse profissional. Se ele tem habilidade para desenvolver um determinado projeto importante para a escola, invista nesse projeto – certamente o professor saberá que ele tem valor. Se esse professor realiza um bom trabalho em uma determinada turma, identifica-se com essa faixa etária, permitir e estimulá-lo a continuar realizando esse trabalho é uma forma de valorização. Explorar e permitir que o profissional demonstre seu talento dentro de vários setores de uma escola é valorização.
Obviamente que me refiro à valorização no que tange à postura dos gestores em relação aos seus profissionais. Não faz parte do escopo desta reflexão, a atenção que a sociedade dispensa ao processo educacional. Muitos diretores acreditam que são “donos” das escolas geridas por eles. Inclusive esse tipo de diretor não gosta de ser questionado a respeito dos cargos dentro das escolas, isto é, sente-se extremamente ofendido, caso alguém pergunte qual é a função deste ou daquele funcionário da unidade escolar. Esquecem que ser gestor é ter o privilégio de cumprir uma legislação (9394/96), principalmente quando essa legislação se refere à gestão participativa. E quanto aos que apropriam de suas escolas, tomam atitudes que privilegiam uns em detrimento de outros; decidem assuntos sem pensar exclusivamente na educação, mas visando a questões políticas; são egocêntricos, gostam de ser bajulados, querem ser o centro das atenções, quando na verdade o espetáculo deve ser feito pelos alunos. O sucesso do aluno repercutirá naturalmente na postura da direção de uma escola, por isso não há necessidade de camuflar toda equipe de trabalho para que o gestor apareça na foto. Tem lugar para todos na fotografia oficial, mas é preciso permitir. Isso também é valorização.
As declarações acima, é claro, são peculiares de algumas instituições Brasil a fora, mas o que incomoda é saber que elas existem e parecem perenes. Valorizar o professor vai muito mais além de criar um restaurante na escola, oferecer lanche com coca-cola. Valorizar o professor é mais do que entregar bombom com cartão em datas comemorativas ( Dia da Mães, Páscoa, Natal...), é saber que professor é ser humano. Precisa ser tratado como gente. A escola pode, dependendo do dinamismo e capacidade de relacionamento do gestor com sua equipe, criar uma redoma de bem estar. Essa redoma de bem estar certamente redundará em sucesso dos educandos e consequentemente sucesso do gestor.
Ao falar em valorização do professor, não se pode omitir o papel do estado. Por falar nisso, é importante que se note que quanto ao salário dos professores, há algo paradoxal, mas certo: um bom salário não faria o professor mais feliz. Como assim? Não parece ser essa a grande luta da classe? Não. Os profissionais querem é valorização. O engodo do aumento salarial não desmotiva o professor pela moeda em si, mas pela cifra do valor, isto é, se o deputado recebe um aumento de 100%, o diretor de 45%, isso significa, para o estado, a importância, em porcentagem, do parlamentar e do gestor, pois os números são exatos.
O que é valorizar o professor? Reitero a pergunta do diretor, citado no início do texto. O profissional da educação lida com um trabalho extremamente abstrato – mundo das ideias – e isso contribui para essa desvalorização. Ninguém vê materializado o resultado do trabalho de um professor (às vezes nem o próprio), pois o investimento que ele faz hoje, não oferecerá resultado imediato, bem como a falta desse profissional também não cria, de forma visível, uma lacuna. Paralelamente, pensemos em outro profissional: um engenheiro, por exemplo. Ele imagina, desenha e desenvolve um projeto, determina o material a ser utilizado na obra, acompanha e finalmente o edifício está pronto. É algo materializado para comprovar seu trabalho. Veja o caso do arquiteto Niemayer, como suas obras são vistas por todos, ele é reconhecido pelo seu magnífico talento.
O advogado pode contabilizar quantas causas ganhou, as artimanhas utilizadas por eles em processos podem até virar livro. Assim, muitas outras profissões podem ser “visualizadas”.
Como comprovar o trabalho de um professor se ele não constrói fisicamente o ser, ele é mediador, instrutor, orientador, todavia de suma importância. Um indivíduo bem sucedido não é obra acabada de um “engenheiro-arquiteto-professor”, mas de vários profissionais da educação, da família, da sociedade. Por isso há dificuldade de valorizar esse professor. Seu trabalho é abstrato demais. Só consegue ver quem nitidamente está envolvido no processo educacional, não se pode mensurar a participação do professor A ou do B na formação de um cidadão. Só uma sociedade extremamente politizada e consciente da importância da educação poderia valorizar tal profissional, mesmo sem “contabilizar” o resultado do seu trabalho.
Valorizar o professor é saber que, embora sua função seja lidar com o mundo das ideias, é imprescindível para a estruturação saudável de uma sociedade. Fazer uma gestão participativa e transparente, empenhar-se para obter qualidade ao invés de quantidade de ensino também são formas de valorizar o profissional da educação. Entender o que é valorizar o professor não é tão difícil assim, mas é preciso estar verdadeiramente inserido no processo e ter boa vontade. Só isso!