Ligação perigosa

Outro dia peguei um Ônibus coletivo "socado" como dizem por aqui. Era "gente saindo pelo ladrão" expressão também bastante usada para explicar o fenômeno da superlotação nos ônibus coletivos da Cidade de São SALVADOR.(SSA)

De repente ouvi um ruido peculiar, já meu e nosso conhecido de muita frequências nos cinemas, restaurantes e as vezes na avenida sete.(lugar onde encontramos de tudo aqui na cidade de SSA).Mas no "buzu" era a primeira vez. Cético, pensei que fora algum passageiro que pedira o pondo de parada. Doce engano!

Não deve ser um celular, pensei novamente. Pois era!ha dois metros ali de mim, bem pertinho. No meio daquele mundo de gente, num espaço tao pequeno, dentro daquela lata de sardinha, pude presenciar tão inusitada cena.... Acostumado a ver aquele aparelho somente nos filmes de cinema ou nos grandes carrões dos magnatas, agora seria teste munho viva de tão memorável fato.

Uma bonitona bem aparentada enfiou a mão na sua bolsa e sacou de lá aquele milagre da comunicação: era o famoso celular. Ela tentou encontrar uma posição confortável onde pudesse articular melhor a sua cominicação. com muita dificuldade conseguio atender a sua ligação.

- alô...não! Não deixe a galinha cozinhar demais. Tire o arroz do fogo. O quê? Nâo!. Não...Roberto ligou? Por que ele não ligou direto para o seu celular? Como? Foi jogar bola com os amigos? Paulinho não fez o quê? Deixou o tênis na escola?

Sem que ela esperasse, o ônibus freou bruscamente e o aparelho despencou da sua mão. No momento que arrumou a lotação novamente, ela se viu engolida por aquela multidão espremida, sem ter ideia de foi parar seu aparelho celular tijolão. O aparelho foi chutado e deslizou para debaixo das poltronas (Se é que podemos chamar aqueles assentos assim), o aparelho falante foi parar perto de um senhor quase idoso. Alguém dizia no fone: alô ...alô...Dona paula, a senhora esta aí?

O homem pegou o telefone celular e perguntou com ingenuidade:

- Quer falar com quem?

Como, quer falar com quem? Este é o celular da minha patroa, o senhor o roubou, por acaso? O que esta fazendo nas suas mãos - perguntou do outro lado da linha, aflita. Sem para um segundo de falar.

- Calma moça disse o coroa com paciência.,

Neste ínterim a dona do celular já tinha sido jogada lá fora pra perto da porta de saída do ônibus coletivo. Pedindo licença a um e a outro ela procurava em silencio o seu aparelho celular.

A minha tensão crescia, pois a minha expectativa era ouvi-la perguntar se alguém tinha visto o seu telefone perdido por ali. Mas ela "não dava o braço a torcer". Procurava com determinação, esbarrando em um e em outro. Até que veio parar bem debaixo dos meus olhos. Como ela conseguia se mover naquele apertucho . Só Deus sabia. Mas sob os olhares dos passageiros, admirados e incrédulos, ela continuava na sua lida. Desconfiada, ela me olhou nos olhos e viu a minha expressão zombeteira, fez um bico de desconjuro...Quando alguém gritou la do fundo do ônibus:- Dona paula! Quem é dona paula? Telefone pra senhora. É sua empregada. É urgente, acho que seu feijão queimou.

A Perua deu dois gritos estridentes e caiu dura nos braços de um passageiro gentil.

SSA, VERÃO DE 1992.

JAILSON MERCÊS
Enviado por JAILSON MERCÊS em 14/02/2012
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